domingo, 19 de abril de 2015

POEMAS DE MAX MARTINS



















O ESTRANHO

Alheio – contudo tão próximo.
Em ti busco a dor que me corrige
na tarde
em um a um dos teus perigos
que reduzo em flor para meu uso
particular, estranho.
O teu grotesco
na impossibilidade de me deter
já me consola.
Ajusto as botas que me levam ímpar
calejado,
de gravata e triste.


1958

Aéreatarde naufragava
em chumbo
e a rubra ponta das folhas
se partia:
O outono
autônomo se despregava
das paredes.
Sobre a mesa
o Ás e a alma
embaralhos
jazem.


A NOVA FLOR

A nova flor se chama
-- no rio defunto – A ALMA
É uma flor de escamas,
pluma de espuma e borra.

A cor é baça
talvez de chumbo
ou de fumaça.

Quando de tarde
a bolha espoca
as larvas fervem
dentro do pólen
azedo e mole.

A COISA

Lá do olhar a cúpula
lunar que tece
esfera e gaze
a coisa insone
de suor e incenso
a arquejar dobrada
mais do que fruta
ou pétala ou luta
quase morrer
submersa nasce
em tempo e brasa
massa
saliva áspera: o nome.



O ANIMAL SORRI

O animal sorri. Seus dentes
são rochas
e ruínas
por onde a noite
sem memória desce
sua demência.

Teu corpo (ainda leve)
-- indelével sombra
Sobra
duma remota juventude
está de volta.
Ninguém te segue, e cega
a ave fere a tarde
te denuncia
às febres deste dia.
Rios se desesperam
pedras agonizam
se torturam
se procuram.

(Virás à jaula
Deste animal remanescente
Do fogo e do Dilúvio?)
Atraiçoado
oco
ex-
posto em praça pública
para os olhos
das crianças, dos fotógrafos?
EU-COBERTO-DE-PÊLOS: virás me ver
atrás das grades?)


OS CHAMADOS DO TIGRE ME ATRAVESSAM

Os chamados do tigre me atravessam. Ardem 
e medram em sangue sob escombros, plasmam 
a carne do meu fruto flamejando-o
Quem defende o meu corpo deste incêndio 
desta palavra corpo se afogando? 
E quem sou eu para guardar um nome de sua noite? Quem 
das grades dessa noite, a pele majestosa, tenso 
vibra seus punhos contra a neve?
                                                              Tu 
que não me dizes nem me sabes, tu 
que do topo dos topos da metáfora me alivias 
                                                                      vê:
Do fundo de meus olhos cego-deslumbrados 
obscuros laivos de ternura me procuram



NEGRO E NEGRO

Sem tom nem som
-- não tonsurada
Oculta de si própria
e de seu nome
cega


no seu ovo a letra-
aranha sonha
sabe:

Guarda o silêncio
antes do incêndio


SANGRADO DE TI

                            À minha mãe
Teu, meu corpo
sangrado de ti
Osso doloroso
Aureolado de ti

Nos confins de mim
tua sede ressoa infinita
se o nome nos cala faminto:

Eu, rico de sombras desertas
Tu, coberta de sombras sonâmbulas.


PEDRA DE MÚSICA

Os sons da água
nas bocas da pedra
Gozos da água
nos dentros da pedra.


VELUDO DE SOMBRA

O amor cresceu para dentro.
Uma noite cobre o coração.
Teu veludo de sombra.


AO LUAR

Um ramo de loucura.


ELA,

a rosa de Celan
e de ninguém             Estrela
tumular de Trakl        Irmã
azul do fogo tremula
de sigilos
signos

solidão 

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