O ESTRANHO
Alheio
– contudo tão próximo.
Em ti
busco a dor que me corrige
na
tarde
em um a
um dos teus perigos
que
reduzo em flor para meu uso
particular,
estranho.
O teu
grotesco
na
impossibilidade de me deter
já me
consola.
Ajusto
as botas que me levam ímpar
calejado,
de
gravata e triste.
1958
Aéreatarde
naufragava
em
chumbo
e a
rubra ponta das folhas
se
partia:
O
outono
autônomo
se despregava
das
paredes.
Sobre a
mesa
o Ás e
a alma
embaralhos
jazem.
A NOVA FLOR
A nova
flor se chama
-- no
rio defunto – A ALMA
É uma
flor de escamas,
pluma
de espuma e borra.
A cor é
baça
talvez
de chumbo
ou de
fumaça.
Quando
de tarde
a bolha
espoca
as
larvas fervem
dentro
do pólen
azedo e
mole.
A COISA
Lá do
olhar a cúpula
lunar
que tece
esfera
e gaze
a coisa
insone
de suor
e incenso
a
arquejar dobrada
mais do
que fruta
ou
pétala ou luta
quase
morrer
submersa
nasce
em
tempo e brasa
massa
saliva
áspera: o nome.
O ANIMAL SORRI
O animal
sorri. Seus dentes
são
rochas
e
ruínas
por
onde a noite
sem
memória desce
sua
demência.
Teu
corpo (ainda leve)
--
indelével sombra
Sobra
duma
remota juventude
está de
volta.
Ninguém
te segue, e cega
a ave
fere a tarde
te
denuncia
às
febres deste dia.
Rios se
desesperam
pedras
agonizam
se
torturam
se
procuram.
(Virás
à jaula
Deste
animal remanescente
Do fogo
e do Dilúvio?)
Atraiçoado
oco
ex-
posto
em praça pública
para os
olhos
das
crianças, dos fotógrafos?
EU-COBERTO-DE-PÊLOS:
virás me ver
atrás
das grades?)
OS CHAMADOS DO TIGRE ME ATRAVESSAM
Os
chamados do tigre me atravessam. Ardem
e medram em sangue sob escombros, plasmam
a carne do meu fruto flamejando-o
e medram em sangue sob escombros, plasmam
a carne do meu fruto flamejando-o
Quem
defende o meu corpo deste incêndio
desta palavra corpo se afogando?
E quem sou eu para guardar um nome de sua noite? Quem
das grades dessa noite, a pele majestosa, tenso
vibra seus punhos contra a neve?
desta palavra corpo se afogando?
E quem sou eu para guardar um nome de sua noite? Quem
das grades dessa noite, a pele majestosa, tenso
vibra seus punhos contra a neve?
Tu
que não me dizes nem me sabes, tu
que do topo dos topos da metáfora me alivias
vê:
que não me dizes nem me sabes, tu
que do topo dos topos da metáfora me alivias
vê:
Do
fundo de meus olhos cego-deslumbrados
obscuros laivos de ternura me procuram
obscuros laivos de ternura me procuram
NEGRO E NEGRO
Sem tom
nem som
-- não
tonsurada
Oculta
de si própria
e de
seu nome
cega
no seu
ovo a letra-
aranha
sonha
sabe:
Guarda
o silêncio
antes
do incêndio
SANGRADO DE TI
À minha mãe
Teu,
meu corpo
sangrado
de ti
Osso
doloroso
Aureolado
de ti
Nos
confins de mim
tua
sede ressoa infinita
se o
nome nos cala faminto:
Eu,
rico de sombras desertas
Tu,
coberta de sombras sonâmbulas.
PEDRA DE MÚSICA
Os sons
da água
nas
bocas da pedra
Gozos
da água
nos
dentros da pedra.
VELUDO DE SOMBRA
O amor
cresceu para dentro.
Uma
noite cobre o coração.
Teu
veludo de sombra.
AO LUAR
Um ramo
de loucura.
ELA,
a rosa
de Celan
e de
ninguém Estrela
tumular
de Trakl Irmã
azul do
fogo tremula
de
sigilos
signos
solidão
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