Aos 28 anos de idade, assisti a mudanças políticas que criaram uma nova situação no Brasil e no campo internacional. Nas eleições de
Em 1990, fui
demitido, juntamente com toda a equipe de redação, da empresa onde trabalhava –
a Editora Universo, que fazia parte do Grupo Abril, e com a indenização resolvi
sair da casa de meus pais e morar sozinho, em um apartamento no bairro do
Bexiga. Viajei até o Espírito Santo, onde passei uma semana no mosteiro
zen-budista em Morro da Vargem, onde pratiquei meditação e estudei haicai. De
volta a São Paulo, convencido de que não tinha vocação para ser monge, fui
trabalhar, como revisor free-lancer, na VEJA (!!!) e no antigo jornal Diário
Popular, onde conheci Regina, com quem casei poucos meses depois, e que foi
minha companheira por duas décadas. Nessa
época, praticava Tai Chi Chuan, fazia terapia lacaniana e dediquei-me à leitura
intensa de poetas que falavam mais à minha sensibilidade e inclinação estética:
João Cabral de Melo Neto, Haroldo de Campos, Rimbaud, Mallarmé, Blake, Bashô, Pound,
Cummings, Maiakovski, Khlébnikov. Estudava também várias filosofias místicas do
Oriente – além do zen-budismo, o vedanta indiano, o taoísmo, o sufismo.
O resultado
desse caldo de desencantamento político, mudanças na vida pessoal, luta pela
sobrevivência, leituras e estudo de poetas e místicos foi o meu primeiro livro
de poesia, Sutra, em 1992, que
custeei por conta própria. O livro passou despercebido, não recebeu nenhuma
resenha ou nota nos jornais, mas foi bem recebido por alguns poetas, como José
Paulo Paes, Claudio Willer, Augusto de Campos. Relendo este livro hoje, não me
reconheço nos temas, mas na linguagem: acredito que toda a minha poesia
posterior seja consequência das experiências com a palavra que realizei nesse
primeiro caderno de estudos poéticos.
O meu
desencanto com a política foi longo, motivado, possivelmente, pela ausência de
uma interpretação marxista aprofundada, naquela época, sobre o que estava
acontecendo no mundo: os trotsquistas saudavam o fim da URSS como sendo a tão
propalada “revolução política” defendida pela IV Internacional, que destruiria
a “burocracia stalinista” para fazer avançar a “revolução proletária mundial”,
bobagem ideológica que logo revelou ser o que realmente era: verniz
“ultra-esquerdista” para encobrir o compromisso de tais organizações com a
reação e com o imperialismo (vale a pena recordar o recente apoio de Luciana
Genro ao golpe de estado pró-nazista na Ucrânia, com as mesmas palavras e
argumentos com que os trotsquistas saudaram o fim do campo socialista na Europa
Oriental). Outros setores, como boa parte do antigo PCB, então liderado por
Roberto Freire, resolveram adotar o discurso ideológico do “fim da história”,
aceitaram a hegemonia do neoliberalismo e da democracia burguesa e mudaram o
nome do partido para PPS, hoje fiel escudeiro do PSDB no Congresso Nacional. O
PT saiu enfraquecido e amargou divisões e derrotas até a vitória de Lula, em
2002, que inaugurou um novo ciclo político no país, que trouxe diversas
conquistas importantes para os trabalhadores, mas com desdobramentos ainda
incertos.
No período entre 1990-2007, privilegiei a vida familiar – meu filho, Iúri, nasceu em 2000 –, a atividade profissional e o trabalho com a poesia (que comentarei em outra confissão), afastado de qualquer atividade militante. Foi um período de grandes dúvidas, incertezas e confusão pessoal, que seria depois superado por uma reconciliação com os meus ideais de juventude e o posterior ingresso no Partido Comunista do Brasil, motivo de imenso orgulho para mim.
No período entre 1990-2007, privilegiei a vida familiar – meu filho, Iúri, nasceu em 2000 –, a atividade profissional e o trabalho com a poesia (que comentarei em outra confissão), afastado de qualquer atividade militante. Foi um período de grandes dúvidas, incertezas e confusão pessoal, que seria depois superado por uma reconciliação com os meus ideais de juventude e o posterior ingresso no Partido Comunista do Brasil, motivo de imenso orgulho para mim.
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