terça-feira, 29 de maio de 2012

Em novo poema, Günter Grass defende a Grécia e critica postura da UE


Após ser considerado persona non grata em Israel em razão de um poema em que culpava aquele país por ameaçar a paz mundial, o escritor alemão Günter Grass volta a abordar, de forma crítica, temas de ordem política. Dessa vez, em “A Vergonha da Europa”, ele critica a União Europeia pelas medidas que tem sido tomadas em relação à Grécia, epicentro da crise da dívida financeira que atinge o continente.

“Humilhado, porque crivado de dívidas, um país sofre”, escreve Grass em um poema de dois versos e 12 estrofes, publicado na edição de sábado do jornal alemão Süddeutsche Zeitung.

No poema, o escritor, tido como uma espécie de “consciência moral” da Alemanha, dialoga diretamente com a Europa: “Tu afastas-te do país que foi teu berço, próximo do caos, porque este não serve aos mercados (...) Tu vais definhar privada de alma sem o país que te concebeu, tu, Europa".

A UE (União Europeia), segundo o ganhador do prêmio Nobel de leiteratura em 1999, coloca o berço do pensamento europeu na berlinda, e transforma a Grécia em uma mera devedora, condenando-a à pobreza e classificando-a como “sucata”, “um país que quase não é mais tolerado”. Em seu país, na Alemanha, 60% da população é favorável a que os gregos deixem a zona do euro.
 
No final do poema, Grass afirma que os vizinhos obrigam Atenas a tomar um copo envenenado (simbologia para as medidas de austeridade fiscal impostas pela UE em troca de novos empréstimos). “Beba de uma vez,beba! gritam os comissários em claque, mas Sócrates lhes devolve irado a taça cheia”, diz o escritor, em referência ao filósofo grego que, após ser condenado à morte, tomou um copo envenenado de cicuta, tomando seu destino pelas próprias mãos.

No início de abril, Grass já havia desencadeado uma onda de indignação com a publicação do poema “O que precisa ser dito”. Publicado em jornais de toda a Europa, o poema causou revolta tanto em setores de direita como de esquerda em Israel, que o classificaram de antissemita, e o proibiu de entrar no país. Ele acusa Israel de colocar a paz mundial em risco em função de seu poderio nuclear. Segundo o escritor, o Irã encontra-se ameaçado pela posição nuclear supostamente preventiva de Israel, que poderia exterminar a população iraniana.

"O que critico é uma política que continua construindo assentamentos em desrespeito a uma resolução das Nações Unidas. Critico una política que se baseia cada vez mais em inimigos e que isola gradativamente o país. O homem que atualmente causa mais dano a Israel é, em minha opinião, (o premiê Benjamin) Netanyahu. E, por isso deveria tê-lo incluído no poema”, disse Grass, na ocasião, em sua defesa.

(Matéria publicada originalmente no site Opera Mundi)


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