quinta-feira, 18 de junho de 2009

DOIS POEMAS DE GUIMARÃES ROSA

AMARELO

Kuang-Ling,

pintor chinês de máscara de cera,

feliz de ópio, e ébrio de dragões,

molha o pincel na água de ocre

do Huang-Ho,

e, entre lanternas de seda,

pinta e repinta,

durante trinta anos,

sulfúreos e asiáticos girassóis,

na incrível porcelana

de um jarrão

dos Ming...


VERDE

Na lâmina azinhavrada

desta água estagnada,

entre painéis de musgo

e cortinas de avenca,

bolhas espumejam

como opalas ocas

num veio de turmalina:

é uma rã bailarina,

que ao se ver feia, toda ruguenta,

pulou, raivosa, quebrando o espelho,

e foi direta ao fundo,

reenfeitare, com mimo,

suas roupas de limo...

(Do livro Magma, de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997)

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