Caros, estou no Rio de Janeiro, onde ficarei até domingo, participando do festival literário Artimanhas Poéticas, ao lado de Luiz Costa Lima, Paulo Henriques Britto, Virna Teixeira, Márcio-André, Leonardo Gandolfi e outras feras. Na volta, contarei as novidades. Lembrem-se de ler Paul Celan antes de dormir.
Besos,
CD
Sim, mas também Trakl, Hölderlin Krolow e Benn .
ResponderExcluirE deixo uma tentativa de tradução, feita por mim, de um dos mais belos poemas de Celan.
Luís Costa
Abraço.
PAUL CELAN: FUGA DA MORTE*
Leite negro da madrugada nós bebemo-lo ao anoitecer
Nós bebemo-lo ao meio-dia e de manhã nós bebemo-lo à noite
Bebemos e bebemos
Nós cavamos uma sepultura no ar aí tem-se mais espaço
Um homem mora na casa ele brinca com as serpentes ele escreve
Ele escreve quando escurece na Alemanha o teu cabelo dourado Margarida
Ele escreve e sai de casa e as estrelas relampejam ele assobia aos seus mastins
[para que se aproximem
Ele assobia aos seus judeus para que se mostrem cavai uma sepultura na terra
Ele comanda-nos tocai agora para que se dance
Leite negro da madrugada nós bebemos-te à noite
Nós bebemos-te de manhã e ao meio-dia nós bebemos-te ao anoitecer
Nós bebemos e bebemos
Um homem vive na casa ele brinca com as serpentes ele escreve
Ele escreve quando escurece na Alemanha o teu cabelo dourado Margarida
O teu cabelo em cinza Sulamita nós cavamos uma sepultura nos ares aí tem-se mais espaço
Ele grita escavai cada vez mais fundo no solo vós esses vós outros e tocai
Ele tira o ferro do cinto e brande-o os seus olhos são azuis
Espetai cada vez mais fundo as enxadas vós esses vós outros continuai a tocar
para que se dance
Leite negro da madrugada nós bebemos-te à noite
Nós bebemos-te ao meio-dia e de manhã nós bebemos-te ao anoitecer
Nós bebemos e bebemos
Um homem vive na casa o teu cabelo dourado Margarida
O teu cabelo em cinza Sulamita ele brinca com as serpentes
Ele grita tocai docemente a morte a morte é um mestre da Alemanha
Ele grita tocai sombriamente os violinos então subireis como fumo aos ares
Então tereis uma sepultura nas nuvens aí tem-se mais espaço
Leite negro da madrugada nós bebemos-te à noite
Nós bebemos-te ao meio-dia a morte é um mestre da Alemanha
Nós bebemos-te ao anoitecer e de manhã nós bebemos e bebemos
A morte é um mestre da Alemanha o seu olho é azul
Ela acerta-te com balas de chumbo ela não falha
Um homem vive na casa o teu cabelo dourado Margarida
Ele açula os seus mastins contra nós ele oferece-nos uma cova no ar
Ele brinca com as serpentes e sonha a morte é um mestre da Alemanha
O Teu cabelo dourado Margarida
O teu cabelo em cinza Sulamita
* "Fuga" aqui em sentido musical
Origem do poema aqui traduzido:
Paul Celan: "Mohn und Gedächtnis", mit einem
Nachw. Von Joachim Seng. - DVA, 1. Auflage März 2000.