DESARVORAR PELA ÁGUA
Os pés peneiram água
entre os dedos.
Carcaça sem afundar,
carrego-me ao fundo
sem pouso nem feudo.
Afogo sem raízes,
o mar me devolve
aborrecido.
* * *
A corrente marinha
não golpeia a ferro.
Perco o alfabeto
nos traços da alga.
Anoto sem disciplina
o vôo da espuma.
* * *
Plana como agulha,
a linha do horizonte
produz lábia
com lábios de concha:
o mar desequilibra,
sol na visão da faca.
Os peixes pulam
como bolha devolvida,
como se desviassem
uma punhalada.
* * *
Abordado pelas garras
alcalinas da água,
os dedos me costuram
à pasta da areia.
Aluno oblíquo,
aprendo a ser árvore.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
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Claudio, hoje mesmo já havia passado pelo blog e lido os belos poemas da Ana Ramiro.
ResponderExcluirE, caramba!, que boa surpresa rever meu caro amigo Carlos Besen nestas páginas virtuais.
Um poeta silencioso e vasto. Saudades dos tempos de Algaravária.
Grande abraço!
Caro Thiago, sim, saudade do Algaravária... por que vocês não retomam o blog? Há braço,
ResponderExcluirCD
Lição difícil e essencial: aprender a ser árvore.
ResponderExcluirBeleza de poema.
mistura de sensos e sentidos
ResponderExcluirtexto gostoso de ser lido