terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

UM POEMA DE CARLOS BESEN

DESARVORAR PELA ÁGUA

Os pés peneiram água
entre os dedos.
Carcaça sem afundar,
carrego-me ao fundo
sem pouso nem feudo.
Afogo sem raízes,
o mar me devolve
aborrecido.

* * *
A corrente marinha
não golpeia a ferro.
Perco o alfabeto
nos traços da alga.
Anoto sem disciplina
o vôo da espuma.

* * *
Plana como agulha,
a linha do horizonte
produz lábia
com lábios de concha:
o mar desequilibra,
sol na visão da faca.
Os peixes pulam
como bolha devolvida,
como se desviassem
uma punhalada.

* * *
Abordado pelas garras
alcalinas da água,
os dedos me costuram
à pasta da areia.
Aluno oblíquo,
aprendo a ser árvore.

4 comentários:

  1. Claudio, hoje mesmo já havia passado pelo blog e lido os belos poemas da Ana Ramiro.

    E, caramba!, que boa surpresa rever meu caro amigo Carlos Besen nestas páginas virtuais.

    Um poeta silencioso e vasto. Saudades dos tempos de Algaravária.

    Grande abraço!

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  2. Anônimo18.2.09

    Caro Thiago, sim, saudade do Algaravária... por que vocês não retomam o blog? Há braço,

    CD

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  3. Lição difícil e essencial: aprender a ser árvore.
    Beleza de poema.

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  4. mistura de sensos e sentidos
    texto gostoso de ser lido

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