quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

POEMAS DE ANDRÉA CATRÓPA

AZUL-MARINHO

o som das algas
ondulando a respiração
silenciosa dos peixes — ela deslizava
no sono mais velho que relógios rumo
às cordilheiras marinhas para encontrar
tímpanos ecos de cantigas pálpebras fotografias de entranhas


ATO COMPULSIVO N. 3.008.011.974

o prazer ilícito de partir ossos (mesmo que já um pouco
apodrecidos pela chuva) — as pontas que cercam
seus muros — a dor auto-infligida de abortar o outro,
colocar o outro no centro do palco que se
transfigura em arena para descarnar
a fala



“não me reconheço”


O SEM-NOME

vermelho-laca com grandes brasas por detrás dos olhos,
os cães ouviram o assobio,
o homem ouviu — lhe disseram é o que anda sem os pés,
o que se esgueira por entre as copas de árvores e não
é cobra
e virá

encarnado é texto, oração, pensamento,

desencarnado é sangue, suor, frio na espinha, a ameaça
da terra, o chão.


(Poemas do livro Mergulho às avessas. Bauru: Lumme Editor, Selo Caixa Preta, 2008)

2 comentários:

  1. Em tempo: os livros do Selo Caixa Preta e outros títulos da Lumme Editor podem ser encontrados, em São Paulo, na Livraria Cultura e na Livraria da Imprensa Oficial na Casa das Rosas. Outra opção é encomendar diretamente com o editor, Francisco dos Santos, pelo e-mail vendas@lummeeditor.com

    Há braços,

    CD

    ResponderExcluir
  2. Textos muito bons. Bons mesmo!

    ResponderExcluir