terça-feira, 27 de janeiro de 2009

UMA CONVERSA COM MARIA ESTHER MACIEL

“Por mais que eu tente, não consigo me desvencilhar da poesia. Mesmo em meus exercícios de prosa ela permanece e me desafia. O Livro de Zenóbia é um exemplo disso. Ainda que, nele, eu tenha me proposto a contar histórias, descrever cenas prosaicas da vida de uma personagem, a poesia me levou a explorar essas coisas por vias transversas: ao invés de me valer do fluxo contínuo da prosa narrativa, da sucessividade temporal, procurei me ater aos ritmos e texturas da memória, com seus fragmentos de imagens, sensações, reminiscências, cortes e dizeres breves, sempre atenta à sonoridade, aos ecos e ressonâncias das palavras”, diz Maria Esther Maciel, em entrevista a Wilmar Silva. Conforme a poeta e ensaísta mineira, “a poesia é, antes de tudo, um exercício de perplexidade. É o resultado de nossos assombros, incertezas, erros e errâncias. E que, para existir enquanto tal, demanda uma linguagem (ou uma forma) capaz de provocar atos internos no leitor”. Esta capacidade da poesia de despertar reações imprevisíveis, para Maria Esther Maciel, é ao mesmo tempo infernal e libertária: “Sempre fui fascinada pelos infernos que definem, por dentro, a vida de uma pessoa. E um de meus infernos é este: o da linguagem em sua mais íntima liberdade”. Confiram abaixo a entrevista com a poeta, prosadora e ensaísta mineira, estudiosa de Octavio Paz, Augusto dos Anjos, Sóror Juana Inés de la Cruz, Bispo do Rosário, dos bestiários e das relações entre poesia e cinema, que há pouco publicou o seu segundo título de ficção, O Livro dos Nomes, pela editora Record.

Zunái: Como aconteceu o nascimento da poesia em sua vida?

Maria Esther: Aconteceu quando eu era ainda uma menina de dez, onze anos. Descobri a poesia através de Cecília Meireles. Pouco tempo depois a redescobri em Drummond. Com ele aprendi que ser poeta é, sobretudo, chegar àquilo que Antonin Artaud chamou de “núcleo irrequieto” das coisas, que as formas muitas vezes não tocam. Desde então, quis ser também poeta.

Zunái: Se Octavio Paz disse que poesia é “linguagem em estado de pureza selvagem”, para Maria Esther Maciel o que é poesia?

Maria Esther: A poesia é, antes de tudo, um exercício de perplexidade. É o resultado de nossos assombros, incertezas, erros e errâncias. E que, para existir enquanto tal, demanda uma linguagem (ou uma forma) capaz de provocar atos internos no leitor.

Zunái: Como foi trabalhar com Augusto dos Anjos na dissertação de mestrado e depois Octavio Paz no doutorado? Pensar é “enfrentar paradoxos”?

Maria Esther: Augusto dos Anjos é um poeta das sombras, que atravessa a esfera do terrível. Paz é um poeta solar, ainda que afeito a certos encantos da penumbra. Minha incursão na obra do primeiro foi uma espécie de descida aos infernos da própria linguagem. Em Paz encontrei uma lucidez que, de tão lúcida, revela sua própria vertigem. Nos dois, distintas maneiras de enfrentar paradoxos. Aliás, sempre tive fascínio pelo paradoxo e pelo “encontro inesperado do diverso”. Todos os autores de minha predileção – de Augusto dos Anjos a Fernando Pessoa, de Clarice Lispector a Emily Dickinson, de Kirkegaard a Octavio Paz – são visceralmente paradoxais.

Zunái: Se pudesse escrever uma obra que fosse exatamente aquela que mais admira, que autor gostaria de ser, ou que obra apagaria o nome do criador para colocar o seu nome?

Maria Esther: Eu me faria autora de As mil e uma noites.

Zunái: Se a poesia fosse impossível para você, consegue imaginar Maria Esther Maciel trabalhando em que atividade?

Maria Esther: Eu a imagino trabalhando como cineasta ou diretora de uma associação protetora dos animais.
(Leia o texto integral da entrevista na edição de fevereiro da Zunái.)

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