domingo, 20 de setembro de 2015

SOBRE A LITERATURA DE MERCADO


Há uma literatura de mercado no país, desenvolvida pelas grandes editoras, especialmente a Companhia das Letras e a Record, com apoio da mídia hegemônica, como a FALHA de S. Paulo, de eventos midiáticos como a FLIP, subsidiada pelo BNDS – logo, por nossos impostos – e pelo Ministério da Cultura, que financia “aviões da alegria" para Frankfurt e Paris, em que 80% ou 90% dos autores convidados são publicados pelas empresas editoriais citadas acima (e com explícito predomínio da prosa sobre a poesia: no último convescote internacional, de 40 autores, apenas DOIS eram poetas). No caso específico da poesia, o lobby da revista carioca Inimigo Rumor monopoliza editais de concursos, bolsas de criação literária, como a da Petrobrás, onde as mesmas pessoas se revezam, ora como jurados, ora como poetas contemplados (este é o verdadeiro escândalo da Petrobrás) e inventa autores de qualidade duvidosa da noite para o dia, valendo-se de sua influência nos meios universitários e jornalísticos. O que caracteriza essa literatura de mercado não é a qualidade estética, a pesquisa formal, a reflexão crítica sobre a realidade ou qualquer justificativa humanista, mas a consolidação de um “segmento do mercado” ou “unidade de negócio”, que oferece aos leitores / consumidores obras bastante convencionais, não raro medíocres – vide os casos de Angélica Freitas, Ricardo Domeneck ou Fernanda Torres, para citar poucos exemplos. São obras de consumo fácil, que dispensam a densidade, o rigor, a preocupação filosófica, cultural ou política, e mesmo assim (ou por isso mesmo) monopolizam a atenção da crítica midiática e são os grandes favorecidos em concursos, bolsas e viagens, além de serem vendidas para bibliotecas públicas e secretarias de educação e cultura, rendendo bons dividendos às empresas editoriais. Este não é um fato literário, mas comercial. Não basta, porém, reconhecermos o óbvio: é preciso pensarmos coletivamente em estratégias voltadas à outra face da moeda: a literatura séria, consistente, que sobrevive em nosso país graças ao esforço das pequenas editoras, como a Patuá, Lumme, Dobra, Demônio Negro, Oficina Raquel, a revistas como a CULT e, claro, ao trabalho sério de poetas e prosadores. Gostaria de apresentar quatro propostas para discussão: 1) criarmos um coletivo que seja representativo dos autores brasileiros, já que não dispomos de nenhuma entidade séria e atuante nos dias de hoje; 2) estreitarmos relações com as universidades, onde se encontra boa parte do público leitor, promovendo feiras de livros, festivais de poesia, eventos de prosa, entre outras ações; 3) estreitarmos relações com as entidades que representam as pequenas editoras, como a LIBRE; e 4) cobrarmos do governo federal e das secretarias municipais e estaduais de educação e cultura quais são os critérios para as compras de livros, que favorecem apenas o lobby das grandes casas editoriais, em detrimento da qualidade, da diversidade, da transparência e da igualdade de oportunidades.      


(Resumo de minha comunicação apresentada hoje no evento LETRAVIVA – LITERATURA DE CONFRONTO, no Centro Cultural São Paulo.)

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