Há uma literatura de mercado no
país, desenvolvida pelas grandes editoras, especialmente a Companhia das Letras
e a Record, com apoio da mídia hegemônica, como a FALHA de S. Paulo, de eventos
midiáticos como a FLIP, subsidiada pelo BNDS – logo, por nossos impostos – e pelo
Ministério da Cultura, que financia “aviões da alegria" para Frankfurt e Paris,
em que 80% ou 90% dos autores convidados são publicados pelas empresas
editoriais citadas acima (e com explícito predomínio da prosa sobre a poesia:
no último convescote internacional, de 40 autores, apenas DOIS eram poetas). No
caso específico da poesia, o lobby da revista carioca Inimigo Rumor monopoliza
editais de concursos, bolsas de criação literária, como a da Petrobrás, onde as
mesmas pessoas se revezam, ora como jurados, ora como poetas contemplados (este
é o verdadeiro escândalo da Petrobrás) e inventa autores de qualidade duvidosa
da noite para o dia, valendo-se de sua influência nos meios universitários e
jornalísticos. O que caracteriza essa literatura de mercado não é a qualidade
estética, a pesquisa formal, a reflexão crítica sobre a realidade ou qualquer
justificativa humanista, mas a consolidação de um “segmento do mercado” ou
“unidade de negócio”, que oferece aos leitores / consumidores obras bastante
convencionais, não raro medíocres – vide os casos de Angélica Freitas, Ricardo
Domeneck ou Fernanda Torres, para citar poucos exemplos. São obras de consumo
fácil, que dispensam a densidade, o rigor, a preocupação filosófica, cultural
ou política, e mesmo assim (ou por isso mesmo) monopolizam a atenção da crítica
midiática e são os grandes favorecidos em concursos, bolsas e viagens, além de
serem vendidas para bibliotecas públicas e secretarias de educação e cultura,
rendendo bons dividendos às empresas editoriais. Este não é um fato literário,
mas comercial. Não basta, porém, reconhecermos o óbvio: é preciso pensarmos
coletivamente em estratégias voltadas à outra face da moeda: a literatura
séria, consistente, que sobrevive em nosso país graças ao esforço das pequenas
editoras, como a Patuá, Lumme, Dobra, Demônio Negro, Oficina Raquel, a revistas
como a CULT e, claro, ao trabalho sério de poetas e prosadores. Gostaria de
apresentar quatro propostas para discussão: 1) criarmos um coletivo que seja
representativo dos autores brasileiros, já que não dispomos de nenhuma entidade
séria e atuante nos dias de hoje; 2) estreitarmos relações com as
universidades, onde se encontra boa parte do público leitor, promovendo feiras
de livros, festivais de poesia, eventos de prosa, entre outras ações; 3)
estreitarmos relações com as entidades que representam as pequenas editoras,
como a LIBRE; e 4) cobrarmos do governo federal e das secretarias municipais e
estaduais de educação e cultura quais são os critérios para as compras de
livros, que favorecem apenas o lobby das grandes casas editoriais, em
detrimento da qualidade, da diversidade, da transparência e da igualdade de
oportunidades.
(Resumo de minha comunicação
apresentada hoje no evento LETRAVIVA – LITERATURA DE CONFRONTO, no Centro
Cultural São Paulo.)
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