Após escolher o tema, o título, a
extensão, a sintaxe e algumas palavras-chave do poema, começo a escrever
as primeiras linhas, por livre associação de ideias. Claro: as regras
previstas inicialmente são úteis para orientar a imaginação no trabalho
criativo, mas não é raro que o poema mude o plano inicial e crie as suas
próprias regras. Assim, mudou a extensão -- o poema terá várias
estrofes de treze (ou mais) versos -- e a sintaxe será um pouco
mais discursiva do que imaginava, por imposição do ritmo dos versos. A
primeira versão (haverá outras? Não sei neste momento) da primeira
estrofe, que orienta a criação de todo o poema, ficou assim:
DEZENOVE CORPOS
I
Vivemos
no tempo descolorido
dos surdos-mudos.
Os que somem sem deixar vestígios.
Os que calam sobre as mortes anônimas.
Dançam, dançam os paladinos,
os magros paladinos do diabo,
os esqueletos dos saladinos .
A mutabilidade dos corpos, reconfiguráveis.
As estruturas de poder mimetizadas em abismo.
A indiferença ante os dezenove corpos alinhados.
O limo recobre qualquer hipótese de delicadeza.
I
Vivemos
no tempo descolorido
dos surdos-mudos.
Os que somem sem deixar vestígios.
Os que calam sobre as mortes anônimas.
Dançam, dançam os paladinos,
os magros paladinos do diabo,
os esqueletos dos saladinos .
A mutabilidade dos corpos, reconfiguráveis.
As estruturas de poder mimetizadas em abismo.
A indiferença ante os dezenove corpos alinhados.
O limo recobre qualquer hipótese de delicadeza.
A estrofe está pronta? Não sei. Eu ainda vou ler e reler este esboço
várias vezes, prestando atenção no som e no sentido de cada palavra, de
cada linha, para descobrir eventuais atritos sonoros ou de significado,
até chegar à versão final.
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