quarta-feira, 11 de setembro de 2013

SÍRIA: UM XEQUE-MATE EM OBAMA?



A Rússia realizou uma jogada de mestre. O acordo de paz apresentado pela diplomacia russa para evitar o ataque norte-americano à Síria colocou Obama na defensiva. A população norte-americana não deseja a guerra, pelo alto custo financeiro e em vidas humanas de um conflito que pode ser ainda mais longo, custoso e imprevisível do que a invasão do Afeganistão e do Iraque, e certamente os parlamentares do Congresso norte-americano, que em breve voltarão a concorrer nas eleições, não podem ficar totalmente insensíveis aos desejos de seus eleitores. Obama encontra-se sob dupla pressão: de um lado, os sionistas e empresários das grandes corporações instigam o ataque militar a Damasco, de outro, sofre a pressão da opinião pública nos Estados Unidos e da Europa contra a guerra. O acordo proposto pela Rússia – e aceito pelo governo sírio – oferece à administração americana uma “saída honrosa” para cancelar – ou pelo menos adiar – a nova agressão imperialista. Para o país árabe, o acordo é vantajoso porque oferece a Bashar Al-Assad  mais tempo para vencer a guerra contra os mercenários, sem privar-se do que há de mais avançado e eficaz em seus meios de defesa – mísseis de todos os tipos, canhões, caças e tanques de alta tecnologia fornecidos pela Rússia. As armas químicas não são eficazes numa guerra convencional; podem causar pânico e terror psicológico em populações civis e deixar sequelas físicas por várias gerações, como acontece ainda hoje no Vietnã, bombardeado com napalm e agente laranja pelos EUA, mas não são armas que garantem o resultado de um conflito (o arsenal nuclear de Israel é infinitamente mais poderoso do que qualquer arsenal químico).  Por outro lado, ao entregar suas armas químicas, a Síria afasta a imagem de “intransigência” associada a ela mídia internacional, mostra à opinião pública que tem boa vontade, quer dialogar e chegar a uma paz duradoura, aceitando inclusive o monitoramento da ONU, em contraste com o discurso agressivo e militarista da administração Obama. Ao entregar as armas químicas, Assad pode provar que não foi o autor do recente ataque realizado nas imediações de Damasco, uma vez que o tipo de gás empregado é diferente do que está disponível nos arsenais sírios, derrubando o principal argumento apresentado por Obama para iniciar a nova guerra de rapina.  Claro: nada disso impede que os Estados Unidos, a Turquia ou Israel ataquem a Síria em curto ou médio prazo, mas essa possibilidade fica mais distante, por várias razões: 1) os Estados Unidos não querem arcar sozinhos com essa responsabilidade, pelo alto custo financeiro de uma guerra regional, que fatalmente contará com a participação do Irã e do Hezbollah ao lado da Síria; 2) a Inglaterra recusou participar da intervenção militar ao lado dos Estados Unidos e na França e Alemanha há forte oposição popular; 3) a presença de frotas da China e da Rússia nas proximidades da Síria são peças simbólicas do jogo de xadrez político, mas podem, hipoteticamente, ser mais do que isso; 4) o risco de uma guerra regional se alastrar por Israel e Turquia torna as conseqüências do conflito completamente imprevisíveis. Um ataque cirúrgico dos EUA contra instalações industriais e militares sírias pode ser o início de uma III Guerra Mundial. Por todas essas razões, não é tão fácil para os Estados Unidos desencadearem, sozinhos, uma guerra contra a Síria.

Caso o acordo proposto pela Rússia se concretize, o primeiro significado político desta iniciativa será a derrota dos Estados Unidos em seu objetivo de depor o governo Assad (e vale a pena acrescentar aqui a incapacidade dos mercenários de derrotarem sozinhos o Exército Árabe Sírio e o forte apoio da população síria ao seu presidente e às Forças Armadas). O segundo significado político é a ascensão da Rússia e da China como mediadoras do conflito, disputando protagonismo com os norte-americanos na resolução das questões internacionais, o que altera a correlação de forças no planeta e pode ter novos desdobramentos, com a eventual ação conjunta dos BRICs (e cabe aqui cobrarmos do Brasil que assuma posição mais clara contra qualquer intervenção militar estrangeira na Síria e o respeito à soberania do país árabe).

A solidariedade internacional ao povo da Síria é essencial para isolarmos ainda mais os falcões da Casa Branca e do Pentágono e contribuirmos para a defesa da soberania da Síria. Uma ação decisiva nesse sentido é a organização de grandes atos populares contra a ameaça imperialista, com a participação ativa dos partidos de esquerda, sindicatos, entidades de mulheres e da juventude, como os realizados no início de setembro em sete capitais brasileiras – São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Fortaleza e Distrito Federal. Está em discussão a organização de um Dia Nacional de Solidariedade ao Povo Sírio e a viagem de uma missão brasileira de solidariedade a Damasco, com representantes de partidos políticos e de entidades da sociedade civil. 

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