quinta-feira, 12 de setembro de 2013

FÓSFORO BRANCO



Fósforo branco ácido ilumina escombro escárnio nos céus do Líbano.

Talhos retalhos de torsos retorcidos

ossos negrume carcaças.

Corpos enfileirados peles requeimadas

de carne sucata

nos campos de refugiados

em Sabra e Chatila.

Esta é a hora do morticínio.

Farpas fiapos nacos de membros desmembrados

e o aroma escuro escuro da hora lenta lenta de um dia que nunca nunca termina.

Nenhum Kaddish para os filhos da escrava Agar

nenhuma lágrima para Ismael.

Apenas o silêncio de talhos retalhos peles farpas fiapos

e o escuro escuro.

Esta é uma história

exilada da história

que eu e você não devemos saber:

por isso cala o escombro cala o negrume cala a sucata do morticínio.

É preciso calar

a matraca dos jornais;

sim é preciso fechar os livros fechar para sempre os livros

e condenar os mortos à perene desmemória

(em algum sítio

mefistofáustico

de Tel Aviv

que moveu a macabra máquina da morte

a estrela de David

se converte

em nova suástica).

Porém eu e você não nos calamos

eu e você não iremos esquecer

eu e você somos o cedro do Líbano a oliveira da Palestina

o pão fresco nas mesas da Síria.

Houve aqui uma página infame da história

mas eu e você recusamos o silêncio

recusamos o esquecimento

recusamos o perdão.


Dedicado a Emir Mourad


Este é um poema que escrevi em 11/09/2013 para ler no recital Palestina em poesia, prosa, som, imagem, que será realizado no Club Homs, no dia 18 de setembro, quarta-feira, a partir das 20h, para relembrar o massacre nos campos de refugiados palestinos em Sabra e Chatila, no Líbano, cometido pelos falangistas libaneses com apoio e participação das forças de ocupação israelenses, em 1982. No recital, haverá a leitura de poemas de autores brasileiros e palestinos por Marcelo Ariel, Khaled Fayez Mahassen, Claudio Daniel, Lelia Maria Romero, Rosana Piccolo, Israel Azevedo, Celso Vegro e Célia Abila

3 comentários:

  1. Belo poema, Claudio! Lindo mesmo!

    Micheliny

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  2. Taí, belo poema, escrito com as tripas. Veio de dentro, da medula, do nó na garganta. E tendo sido dedicado ao nosso querido Emir Mourad- que não desgruda do couro da causa- ganha um significado de grande beleza

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