quinta-feira, 14 de março de 2013

A RECEPÇÃO DA POESIA CLÁSSICA JAPONESA EM PORTUGAL (III)



Wenceslau de Moraes conhecia bem o repertório filosófico e religioso do Japão, em especial as práticas e princípios do zen budismo, como percebemos na leitura de seus inúmeros livros sobre a cultura japonesa, como O culto do chá, Fala a lenda japonesa, Relance da alma japonesa e nas Cartas do Extremo Oriente. Essa familiaridade ajudou o escritor português a entender a filosofia da arte que orienta a criação da poesia clássica, em especial o tanka e o haicai, que ele “reimaginou” – para usarmos um termo caro a Haroldo de Campos, extraído de suas notas sobre a tradução de poemas chineses e japoneses – na forma das quadras portuguesas, sem rimas (a poesia clássica japonesa, assim como a grega, não era rimada, e os ideogramas eram dispostos em uma, duas ou três colunas verticais). Conhecida desde a Idade Média, a quadra popular, ou quadrinha, era escrita em várias medidas métricas, especialmente a redondilha, também usada no haicai, e é uma das formas mais concentradas da poesia portuguesa. Sua aparente simplicidade, musicalidade e facilidade de memorização também permitem uma aproximação com o terceto japonês, assim como o emprego de palavras de uso cotidiano e jogos de palavras. Wenceslau de Moraes notou o uso recorrente de onomatopeias na poesia japonesa, como “bisho-bisho (ideia de molhar, de alagar); bura-bura (preguiçosamente); chobo-chobo (gota a gota); goro-goro (estrondo de trovão)” (MORAES, 1925: 30). O autor percebeu também a ocorrência, no haicai, da “reunião de dois períodos, independentes um do outro no sentido, também vulgares na quadra”, que sendo “habilmente manejada, seria suscetível de dar excelentes traduções dos poemas japoneses” (idem, 197). A partir dessa minuciosa investigação da estética do haicai, Wenceslau de Moraes realiza a transcrição do poema japonês para a quadra – e recordemos aqui o emprego da palavra transcrição por Guilherme de Almeida, no artigo Ritmo, elemento de expressão, em que o poeta e tradutor brasileiro usa o termo tal como é entendido na teoria musical, ou seja, “escrever para um instrumento música escrita para outro” (ALMEIDA, 1997: 17). A comparação entre a atividade tradutória e a transcrição de partituras na música erudita, aliás, recorda uma outra comparação feita por Roman Jakobson em conferência pronunciada em 1967, em Tóquio: “Pode-se mesmo dizer que uma tradução fiel, cerrada, de poesia seja uma contradição em termos. O que permanece passível é a transposição congenial – a resposta livre, criativa, de um poeta de língua inglesa a um autor russo ou japonês e vive-versa”, que o linguista russo compara a “uma transposição inventiva, engenhosa, de um poema ou de um romance em pintura, cinema, balé ou numa composição musical” (in CAMPOS, 1993: 7). A recriação dos haicais japoneses para o formato da quadra, portanto, pode ser considerada uma original releitura de Wenceslau de Moraes, e até uma antecipação das modernas teorias e práticas da tradução. Apesar de toda a sua boa vontade, compreensão conceitual, domínio do idioma e da facilidade com que percorria o território cultural japonês, no entanto, Wenceslau de Moraes não logrou obter, em português, um resultado poético eficaz, comparável aos textos originais japoneses. O poema de Bashô sobre o salto da rã – o mais conhecido de todos os haicais – assumiu a seguinte fisionomia, ao ser transposto para as redondilhas da quadrinha portuguesa:

Furu-ike ya
Kawaza tobi-komu
Mizu no oto


Versão literal:

Ah, o velho tanque!
e o  ruído das rãs,
atirando-se para a água!

Versão em quadra:

Um templo, um tanque musgoso;
Mudez, apenas cortada
Pelo ruído das rãs,
Saltando à água, mais nada...

A tradução literal da composição de Bashô recorda as versões que seriam feitas, nas décadas seguintes, por poetas tão distintos entre si como Paulo Leminski (“velha lagoa / o sapo salta / o som da água”), Paulo Franchetti (“O velho tanque – Uma rã mergulha / Barulho de água”) e Casimiro de Brito (“No velho tanque / uma rã salta – mergulha. / Ruído na água”), mas, na transcrição para a quadrinha, Wenceslau de Moraes afastou-se da síntese, da concisão e do estilo elíptico, abrupto, do haicai tradicional, buscando “explicar” o contexto do poema, sua atmosfera física e emocional, inserindo “palavras ou frases que não aparecem na versão literal”, como diz Paulo Franchetti. “O resultado, muitas vezes, deixa a desejar, porque o texto traduzido resulta muito explicativo ou mesmo prolixo.” (FRANCHETTI, 1990: 39) Assim, na versão do haicai para a quadra, Wenceslau de Moraes inclui um “templo” ausente no texto original, adjetiva o tanque como “musgoso”, descreve o silêncio que é apenas implícito no poema (“Mudez, apenas cortada...”) e acrescenta uma desnecessária ênfase no verso final (“mais nada...”)[1]. Podemos recordar, aqui, do julgamento crítico de Haroldo de Campos às primeiras traduções de poemas chineses e japoneses, realizadas na década de 1920, consideradas pelo poeta e tradutor brasileiro como presas de um “exotismo edulcorado e fácil” (CAMPOS, 1993: 17), com uma tendência a “transmitir uma réplica aproximativa, vagamente simbolista, frequentemente diluída, do texto original.” (idem, 15). A severidade do parecer, no entanto, pode ser exagerada, se aplicada a Wenceslau de Moraes, que não era poeta e não teve como objetivo recuperar a informação estética dos textos originais, mas a sua informação semântica (usamos aqui as categorias de Max Bense)[2], a partir de sua vivência no Império do Sol Nascente. O autor não ambicionou a “reconstituição da informação estética do original em português”, contentando-se com “o simples escopo didático de servir de auxiliar à leitura desse original” (CAMPOS: 1978b, 7). Como bem observou Paulo Franchetti, “não é na discutível e interessante proposta de verter o haicai em uma forma tradicional portuguesa que reside o mérito maior de Moraes, e sim em ter enquadrado suas traduções em uma obra que fornece o que é mais raro em relação ao Extremo Oriente: uma visão de conjunto, harmônica e acurada”, que só foi possível porque o escritor possuía “um verdadeiro conhecimento dos aspectos mais importantes da cultura japonesa” (FRANCHETTI, 1990: 39). Wenceslau de Moraes cumpriu o papel histórico de retomar o diálogo cultural entre Japão e Portugal, iniciado no século XVII pelo padre João Rodrigues e interrompido por mais de duzentos anos, durante o Período Tokugawa. A recepção plena da poesia japonesa em Portugal, no entanto, teria de esperar ainda mais algumas décadas até ser incorporada nos ensaios críticos, atividades tradutórias e trabalhos criativos de alguns dos mais representativos poetas portugueses da segunda metade do século XX.


2.2 Releitura sincrônica de Alberto Caeiro

Wenceslau de Moraes viveu no Japão de 1898, data de sua nomeação como cônsul em Kobe, até sua morte, em 1928, em Tokushima, pequena cidade do sul do Japão, na época com setenta mil habitantes. O escritor português deixou 14 livros sobre a cultura japonesa, que testemunham o seu amor pelo país que escolheu como segunda pátria – converteu-se ao zen-budismo, adotou o modo de vestir dos japoneses e casou-se com  Ó-Yoné, cuja morte prematura levou o escritor, em 1913, a renunciar à carreira diplomática. O reconhecimento da obra de Wenceslau de Moraes pelos poetas e estudiosos de literatura em Portugal, porém, não foi imediato, e o interesse pela poesia japonesa esteve ausente nos círculos literários portugueses até meados da década de 1950. Os poetas ligados à revista Orpheu – Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros – dialogaram com a poesia clássica grega e romana, com a lírica elisabeteana, com a poesia simbolista francesa, Walt Whitman, o futurismo europeu, mas em nenhum momento com a arte concentrada de Matsuo Bashô e seus discípulos. No livro Fernando Pessoa – aquém do eu, além do outro –, Leyla Perrone-Moisés faz um curioso paralelo entre Alberto Caeiro, o zen-budismo e o haicai, mas essa comparação, ainda que instigante, esbarra no fato de que Pessoa/Caeiro nunca leu a obra de Wenceslau de Moraes, e menos ainda a poesia japonesa, que naquele momento histórico – décadas de 1910 e 1920 – estava apenas começando a chamar a atenção dos leitores franceses e norte-americanos, após a publicação, em 1905, de uma antologia de haicais escritos em francês por Julien Vocance. Aproximar o Guardador de rebanhos de Sendas de Oku, portanto, é um anacronismo – o “zen” de Caeiro pode ser comparado, com base em evidências textuais, aos autores estóicos e epicuristas, lidos atentamente por Fernando Pessoa e que inspiraram também outro de seus heterônimos, Ricardo Reis. Apesar de sabermos que o autor de Mensagem ignorava a Terra do Sol Nascente – é possível que tenha lido os poemas chineses traduzidos por Camilo Pessanha, de quem era admirador –, a mirada sincrônica de Leyla Perrone-Moisés chama a nossa atenção pelo fato de o leitor contemporâneo projetar, no texto pessoano, reminiscências daquilo que hoje entendemos como “zen”, numa operação mental que coloca em segundo plano a historicidade: trata-se, antes, de uma percepção subjetiva, sutilíssima, e não despida de interesse. Citaremos aqui, como registro dessa singular recepção crítica, a seguinte passagem da autora:

O que pretendo apontar aqui são as notáveis coincidências da filosofia de Caeiro com o Zen-budismo, para assinalar em seguida, na própria poesia desse heterônimo, resultados estéticos semelhantes aos alcançados pelo Zen na arte verbal. O objetivo destas notas não é, evidentemente, classificar a filosofia de Caeiro usando, para tanto, sua poesia. Também não se trata de dizer apenas ‘isto se parece com aquilo’, num comparativismo ingênuo que não nos levaria a nada, já que os caminhos analógicos são infinitos e divagantes. Além disso, no caso preciso do paralelo que ora proponho: 1) a analogia com o Zen só poderia ser tratada superficialmente, dada a complexidade dessa filosofia e o caráter específico (não-discursivo) de sua prática; 2) a preciosa, breve e personalíssima poesia de Caeiro correria o risco de ser esmagada, de passar a segundo plano no confronto com um saber milenar e coletivo como o do Zen.  

O objetivo desta aproximação é, portanto (...), sugerir mais um ângulo de leitura entre os múltiplos que a poesia pessoana permite, acordar mais uma de suas virtualidades. Partindo de um paralelo filosófico, pretendo chegar a uma questão de forma: os efeitos estéticos de certas posições mentais. Só operacionalmente, diga-se de passagem, ofereço esse encaminhamento que vai das ideias às formas; é escusado dizer que na poesia pessoana, como em toda Poesia, temos ideias-formas absolutamente sincrônicas.

O paralelo com o Zen não será portanto detido no confronto filosófico, mas deverá levar-nos de volta à poesia de Caeiro, seus processos, suas articulações, suas dificuldades e soluções. (MOISÉS, 1982: 117-118)

O escopo do presente capítulo não é o estudo da poesia de Fernando Pessoa, mas, a partir das afirmações de Leyla Perrone-Moisés, não podemos nos esquivar de uma brevíssima comparação entre alguns tópicos de Alberto Caeiro e os da poesia clássica japonesa, uma vez que ambos fazem parte, hoje, de nosso repertório intelectual, e o entrecruzamento de referências aconteça, mesmo fora da esfera diacrônica. Conforme diz Leyla Perrone-Moisés, “o haicai não pode ser composto por uma mente analítica ou conceptual, porque busca comunicar a primeira sensação provocada pelo objeto, antes que a consciência dele se apodere e a razão comece a abstratizá-lo” (idem, 135), conceito que depois seria adotado pela poesia beat norte-americana (“primeira ideia, melhor ideia”, diz uma sentença zen). Prossegue a autora: “O haicai é sintético e concreto. Exprime e comunica, de modo inédito, uma sensação de absoluto frescor” (idem). Três são as características básicas do haicai, segundo Leyla Perrone-Moisés:

1) o quê – O haicai é desencadeado por um objeto; é a percepção privilegiada do real em alguma coisa, que constitui assim o núcleo do poema: uma flor, um animal, uma árvore, a lua etc. Não é a projeção de um eu no objeto para conformá-lo a si mesmo, como no “paysage état d’âme” romântico, mas, ao contrário, a total entrega do eu, que se funde, transtornado, ao objeto. “Se o haicai não surge naturalmente do objeto, o objeto e seu observador se tornam dois, e o observador não pode experimentar o sentimento do objeto, já que sua individualidade intervém. Quando o poeta escreve sobre a aparência da natureza, o que deve fazer é agarrar uma intuição básica do objeto”. Atento a esse princípio de realidade do objeto, o haicai privilegia a nomeação, o substantivo; os adjetivos em que se marca a subjetividade do observador são naturalmente evitados; permanecem apenas aqueles, parcos e simples, que definem uma “objetividade”: cor, forma, cheiro etc.

2) onde – O objeto referido é situado, pelo poeta, no lugar em que foi visto, o que contribui para dar maior concretude à imagem. Uma parte do haicai é, assim, destinada a indicar a localização do objeto, cenário sucinto de sua aparição.

3) quando – Com o mesmo objetivo de concretude (objetivo que decorre da própria natureza da percepção), o haicai indica a ocasião em que foi visto o objeto. Essa indicação temporal, indispensável no haicai clássico, contém uma alusão à estação do ano em que ocorre a percepção. O traço temporal tornou-se uma convenção rigorosa, criando-se assim um repertório de saijiki (ou “tema de estação”) extremamente econômico porque indicial: “neve” para inverno, “flor de cerejeira” para primavera, “libélula” para verão etc. (idem, 135-136)

Leyla Perrone-Moisés observa ainda que “o lugar é preciso, mas genérico: jardim, campo, caminho, casa (...); o quando não é a data da história linear, mas a instância de uma estação, remetendo para um tempo cíclico e, assim, ‘eterno’ ” (idem, 136). Todos os sentidos humanos são envolvidos nessa arte poética, mas, como bem ressalta a autora, o haicai “privilegia a visão: ‘O haicai é frequentemente um quadro escrito, exatamente como o suibokuga (desenho a nanquim) é um quadro poema[3]’. (...) O poeta do haicai é antes de tudo um visualizador;  para usar a expressão de Caeiro, é alguém que ‘vê como um danado’.” (idem, 138) A partir dessa breve descrição de princípios da filosofia da arte japonesa, Leyla Perrone-Moisés faz uma curiosa “antologia de haicais” pinçados da obra de Alberto Caeiro, para justificar a sua analogia entre a poética e visão de mundo do autor de O guardador de rebanhos e a arte de extrema concisão de Bashô:


1) “... esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.”
(O. P., p. 203)


2) “Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada
Os meus pensamentos vão contentes.”
(O. P., p. 203)


3) “... uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.”
(O. P., p. 204)

4) “Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme.”
(O. P., p. 205)

5) “... os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz não.”
(O. P., p. 205)


6) “... dia de Verão
(Alguém) abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda.”
(O. P., p. 216)


7) “... uma nuvem passa
(...) quando entra a noite
E as flores são cor da sombra”
(O. P., p. 219)


8) “O luar através dos altos ramos
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.”
(O. P., p. 222)


Comentando esses inesperados “haicais” do poeta português, escreve a autora:

Admiráveis haicais, alguns ready made, outros obtidos pelo simples corte de algumas palavras ou versos. Falsos haicais com as características dos verdadeiros: síntese, concretude, sensualidade, impacto visual de ‘pequenos quadros’; índices sazonais remetendo para um tempo cíclico; efeitos implícitos por associações surpreendentes (renso); comunicação de sensações e sentimentos não individualizados, apenas humanos (...). Ao propor esta leitura “japonesa” de Caeiro não pretendo, evidentemente, sugerir que, assim recortado, Caeiro fique “melhor”. Efetuo uma operação de leitura como quem, diante de uma paisagem, isola um pormenor, enquadrando-o dentro dos polegares e indicadores. (idem, 141-142)

Fernando Pessoa, que desdobrou-se em heterônimos com diferentes concepções estéticas, morais e filosóficas, inventando para eles biografias e obras, fez das “ficções do interlúdio” a marca de sua extrema originalidade. “Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos,  os seus companheiros de espírito?” (in CAMPOS, 1978a: 7), escreveu o poeta, com finíssima ironia. Criar um outro “eu” para Fernando Pessoa, um “eu” anacrônico, póstumo e inverossímil, como fez Leyla Perrone-Moisés, a partir de uma leitura sincrônica dos poemas de Alberto Caeiro, não deixa de ser uma aventura fascinante, que recorda as invenções fabulatórias de Jorge Luís Borges, como a conhecida história Pierre Menard, autor do Quixote. Essa operação de leitura, ainda que insólita, não é totalmente arbitrária, uma vez que funda-se nos textos do próprio Pessoa/Caeiro, revistos à luz de um repertório cultural contemporâneo, onde o zen-budismo e o Japão do século XVI estão no mesmo plano que a Poética de Aristóteles e a Grécia do século VI a. C.  O modo como o leitor de hoje saboreia e decodifica um texto literário é diferente daquele de um leitor do início do século XX, cujo lastro de cultura era branco, ocidental, eurocêntrico.  Sob essa perspectiva, a interpretação de Leyla Perrone-Moisés é original e pertinente, deslocando o foco de interesse da intenção textual do autor para o imaginário multicultural do leitor de nossos tempos[4].




[1] Para justificar a sua “reimaginação”, Wenceslau de Moraes escreve: “O leitor não se encontra prevenido para poder encontrar belezas, assim de surpresa, n’uma pequenina poesia japonesa. Mas pense um pouco. Não acha encantador este instantâneo, recordando a paz de um lugar, provavelmente junto de algum vetusto templo budístico, em cujo terreiro se encontra um velho tanque, sendo o silêncio apenas cortado pelo som melancólico que acompanha a queda das rãs sobre a água adormecida?” (MORAES, 1925: 197-198).

[2] “Informação, já o definira antes, é todo processo de signos que exibe um grau de ordem. A ‘informação documentária’ reproduz algo observável, é uma sentença empírica, uma sentença-registro. (...) A informação semântica já transcende a ‘documentária’, por isso vai além do horizonte do observado, acrescentando algo que em si mesmo não é observável, um elemento novo, como, por exemplo, o conceito de falso e verdadeiro. (...) A ‘informação estética’, por sua vez, transcende a semântica, no que concerne à  ‘imprevisibilidade, à surpresa, à improbabilidade da ordenação dos signos’ (CAMPOS, 1993: 32)

[3] Citação de Sanki Ichikawa, Haikai and Haiku, Tóquio, The Nippon Gakujutsu Shinkokai, 1958, p. IX.
[4] Stephen Reckert comenta a respeito: “Embora Pessoa não pareça ter se interessado especialmente pela poesia japonesa, Leyla Perrone-Moisés extraiu da obra de Alberto caeiro mais de vinte haiku aparentemente fortuitos mas muito mais consoantes com o espírito do gênero, por acaso, do que qualquer das quase trezentas quadras ‘ao gosto popular’ do pessoa ortônimo (...). Mais pertinente do ponto de vista comparativo – tanto pela diferença como pela semelhança – é ‘Ela canta, pobre ceifeira’, cujos vinte e quatro versos estão todos implícitos nos três de um haiku do terceiro dos quatro mestres reconhecidos, Kobayashi Issa (1762-1826): À sombra do matagal / o canto da plantadora de arroz / sozinha” (In BRITO, 1995: 10)

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