(Paisagem urbana)
Estranha água, sede multiplica a sede, multiplica-a em filetes de capulhos.
Que abismo é maior do que o medo?
Nenhum destino, sombra esquálida flanqueada por cutelos.
Fêmea esfomeada amamenta o filhote com a única teta.
Bico-de-papagaio. Pele dispersa, reduzida ao escorço de uma paisagem do mundo flutuante.
Tanta desmesura.
Moídos maxilares, rosto encurvado, ossos que tentam fugir dos dedos.
Céspede nenhuma. Aspérula nenhuma. Vocabulário abolido, evisceração das falas.
Tanta delicadeza.
Pedra ao contrário exibe sua entranha: cunhas disformes, irregulares, multíplices, que abismo é maior do que o medo?
Na órbita de uma lacraia estrelas coxas se entredevoram.
2011
domingo, 2 de janeiro de 2011
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Prezado prof. Claudio Daniel
ResponderExcluirNem precisa assinar para advinharmos que essa é sua poesia. O emprego da céspede não permite qualquer engano.
As verdades telúricas! É impressinante como uma realidade paralela à nossa salienta aquilo que não perceberíamos.
ResponderExcluirAh, e também muito bom nos propriciar seu paladar de Claude Verlinde.
Abraços! E Ótimo Ano!