REBELIÃO DE VOCÁBULOS
De repente, sem motivo:
grasnido, palaciano,
carrancudo, micróbio,
padre-nosso, vitupério,
seguidos de: incolor,
bissexto, tegumento,
eqüestre, Marco Polo,
zambro, complexo;
depois de: somormujo,
garanhão, reincidente,
herbívoro, profuso,
ambidestro, relevo;
rodeados de: Afrodite,
núbil, ovo, ocarina,
incruento, escambal,
diametral, pêlo fonte;
em meio de: fraldas,
Flávio Lácio, penates,
laranjal, nigromante,
semibreve, sevícia;
entre: corvo, cornija,
imberbe, garatuja,
parasito, ameado,
tresloucado, equilátero;
em torno de: nefando,
hierofante, goiabeira,
espantalho, confrade,
espiral, mendicante;
enquanto chegam: incólume,
falaz, ritmo, emplasto,
cliptodonte, ressaibo,
fogo-fátuo, arquivado;
e se aproximam: macabra,
cornamusa, heresiarca,
malandro, chamariz,
artimanha, epiceno;
no mesmo instante que
castálico, invólucro,
chama sexo, estertóreo,
zodiacal, disparate;
junto à serpente... não quero!
Eu resisto. Eu recuso.
Os que seguem vindo
hão de achar-se adentro.
GRISTENIA
NOCTIVOZMUSGO insone
de
mim a mim refluido para o gris já deserto tão duna
evidência
gorgogotejando
nãos que preulceram o pensar
contra
as sempre contras da pós-náusea obesa
tão
plurinterroído por noctívagos eus em rompante ante
a garganta angústia
com
seu sonhar rodado de oco sino dado de dado já tão dado
e
seu eu só escuro de poço lodo adentro e microcosmo tinto
para a total gristenia
AS PORTAS
Absorto tédio aberto
ante a fossanoite
inululada
que em seca greta
aberta subsorri seu mais acre recato
aberto insisto
insone a tantas mortenazes de incensosom
revôo
até um destempo
imóvel de tão já amargas mãos
aberto ao eco
cruento por costume de pulso não digo mal
por mero nímio
glóbulo aberto ante o estranho
que em voraz queda
enferruja circunrrói as costas parietais
abertas ao murmúrio
da má sombra
enquanto se abrem as
portas
MITO
Mito
mito meu
acorde de lua sem pijama
embora me firam teus psíquicos espinhos
mulher pescada pouco antes da morte
aspirosorvo até o delírio tuas magnólias
calefacionadas
quanto decoro teu luxuosíssimo esqueleto
todos os acidentes de tua topografia
enquanto declino em qualquer tempo
tuas titilações mais secretas
ao precipitar-te
entre relâmpagos
nos tubos de ensaio de minhas veias
DESTINO
E
PARA CÁ OU ALÉM
e
desde aqui outra vez
e
volta a ir de volta e sem alento
e
do princípio ou término do precipício íntimo
até
o extremo ou meio ou ressurrecto resto de este ou aquele
ou
do oposto
e
roda que te rói até o encontro
e
aqui tampouco está
e
desde acima abaixo e desde abaixo acima ávido asqueado
por
viver entre ossos
ou
do perpétuo estéril desencontro
ao
demais
de
mais
ou
ao recomeço espesso de cerdos contratempos e destempos
quando
não a bordo senão de algum complexo herniado em pleno
vôo
cálido
ou gelado
e
volta e volta
a
tanta terça turca
para
entregar-se inteiro ou de três quartos
farto
já de metades
e
de quartos
ao
entrevero exausto dos leitos desfeitos
ou
dar-se noite e dia sem descanso contra todos os nervos do
mistério
do
além
daqui
enquanto
se resta quieto ante o fugaz aspecto sempiterno do
aparente
ou do suposto
e
volta e volta fundido até o pescoço
com
todos os sentidos sem sentido
no
sufocotédio
com
unhas e com idéias e poros
e
porque sim não mais
Traduções: Claudio Daniel
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