na altitude de um calor sem
espessura tocando nas palavras
cheias e vazias com a solidão dos
sinos espancados, das poças
aquecidas pelo tempo, das mãos
calosas pelo frio artesanal.
* * *
O ar terroso e as manchas do
verão tocam a escrita lenta das
flores,
é a minha respiração que pela
boca da noite se cantava muito
baixo e onde se
teciam
com a fascinação de um rio
canções esgueiradas,
rostos.
* * *
As unhas crescendo na parede
das casas, os pássaros saindo
pela boca com o sexo das
sombras tocando
na vidraça,
a urina nas cadeiras
penduradas pelo entardecer.
* * *
Eu toco a página do livro com a
mão e a aridez do pensamento
dobrando seus espelhos
é o barulho do ar
batendo nas palavras.
* * *
A palavra escava a madeira, entra
na água, relâmpago enterrado no
ar castanho, palmas esculpidas,
banho de osso e lentamente extrai
a dádiva dos seios macilentos, ímã
dos fogos assimétricos. Vozes mer-
gulhadas mansamente no amarelo.
(Poemas do livro FAVOS. Bauru: Lumme Editor, 2013)
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