xantofila
anjos terpenos flutuam sobre
berços, com adagas circulares. suas cabeças acima do universo, gestantes. gatos
macios, voam em triângulos pela geometria do chão. a mente levita, fóssil
paraplégica, pela boca das torres fulminadas.
(vê como a obscuridade nos cai
bem. e depois nos eleva.)
ela, papisa amarela, espera a
delicadeza de um hexagrama. afia as unhas com os leques jugulares.
roda fortuna! ave-gira, o veludo
de exúvias.
orientais, todos eles. quimeras
abertas contra o corpo fechado da massa atmosférica.
orientai vós, o espaço. com a
bússola perdida de magnólias.
os elementos são signos
radioativos, no meio do dia. xanto, xanto, xanto é o senhor dos exércitos
crisântemos. imperioso solar.
(vê como a obscuridade nos
enfurece. e depois nos criva de sonhos.)
toque das ave-marias
(lendo a psique do fogo, todas as
coisas devoradas pelas chamas serão alimento.)
prove este corpo de diamante
a criança de estrelas pelo campo
de dedaleiras. sua inocência pisoteando o rosto verde de uma mãe. nutrindo o
leite das seivas com o orvalho de uma caminhada ígnea. tudo que o fogo diz, com
amor cortês. câimbra de lascas pelas espáduas de uma aldeia esquecida. zigoto
de um império límpido nascido em campo de rebentações lácteas, nebulosas.
soberanas de manhãs moleculares.
este cristal é solidário como uma
casa de espíritos. e nada mais será preciso taquigrafar, pela terceira ordem.
os olhos que leem o fogo descrevem a psique de uma fome infernal redentora.
psíquica majestosa.
prove este corpo de carvão
o inquilino que cobre com pele de
especiarias a echarpe das senhoras católicas, prostituídas de eternidade.
mortificadas no ponto carnal onde se embalam os mortos e os delírios: estes
gêmeos pictóricos na memória anágua das moças com peito de ave. as leoas
venéreas esqueceram os anjos da guarda e sua ressonância embrutecida de
tentáculos. seus dedos gigolôs apertam a oração como uma mercadoria milagrosa.
que bufassem como poemas. mas
rezam em tom inaudível de vespas, para não arrebentar o tímpano dos santos
ocos. e ainda as ouço, antracito. sob martelos e maçaricos. com a letra povoada
de insetos.
para provar este corpo de
diamante
para provar este corpo de
carvão
(a salvação oscila feito o
pêndulo na hora do angelus.)
prove este bendito fruto
o grande colisor
abro o sol e fecho o corpo, com a
noite retida nas têmporas. forjo milhões de retratos claros, para meu vestido
de espelhos pirotécnicos: disfarce da noite véspera onde enterrei uma alma. com
cicuta, com astúcia, com granizo. na carótida de chagall. o riso demolidor dos
trovões no fogo dos dedos. misturando fusos horários, fusos cósmicos. na
polifonia dos quadros. mais um instantâneo na galeria com que me adorno. os
passantes partem-se em reflexos dourados quando uso trajes brancos. são atraídos
pela luminosidade. quem deles retratarei desta vez? é da fosforescência dos
homens a minha coleção. vitrine da memória.
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