terça-feira, 3 de abril de 2012

ESPOSAS DE ÁGUA

Disse-nos a mãe, e os outros disseram: há raparigas que a chuva carrega. E retém-nas na água para onde as carrega. Depois relampeja e morrem. Tornam-se estrelas e a sua aparência muda: tornam-se estrelas. Por isso a mãe nos disse, e os outros disseram: rapariga que é levada pela chuva transforma-se em flor e cresce nas águas. Nós, que nada sabemos, quando as vemos na água, quando as vemos tão lindas, dizemos assim: colherei estas flores que cresceram na água. Não é coisa pouca a sua beleza. Mas a mãe e os outros já nos tinham dito: uma flor assim, se vê que a procuram, mergulha na água. E então nós pensamos: era aqui que estavam, onde estão agora? Não as vemos mais, no sítio em que estavam. Desaparecem, quando as procuramos. Não devemos sequer dar conta delas: esconder-se-ão na água. Por isso a mãe e os outros disseram que não devemos procurar tais flores: são raparigas. Parecem flores por causa da chuva. São as esposas da água. Olhamos para elas mas passamos ao largo. Poderíamos sofrer o que elas sofrem. O cabelo da nossa cabeça será como as nuvens, quando nós morrermos. E quem não souber dirá que são nuvens. Mas nós, que sabemos, ao vê-las diremos: são nuvens de gente, feitas do cabelo das nossas cabeças. Nós quando morremos produzimos nuvens.

(Da tradição oral dos bosquímanos. Tradução do Ruy Duarte de Carvalho.)

Um comentário:

  1. Caraca, esta semana eu tô trabalhando um texto com meus alunos que se hama "O marido da Mãe-d'água". Quando tiver um tempinho, transcrevo e compartilho. Esses mitos são bárbaros, né?!

    Um beijo.

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