“Em 2000, Zigmund Bauman, polonês, radicado na Inglaterra desde 1971, expoente mundialmente reconhecido da chamada ‘sociologia humanística’ (...) publicou pela Polity Press o livro Liquid modernity (‘Modernidade líquida’). (...) Não poderia haver título mais sugestivo para dar conta das incertezas que rondam as condições cambiantes, maleáveis, fluidas, excessivas, transbordantes, fugazes das complexas contradições das sociedades contemporâneas. (...) Qual tese nela é defendida? Comecemos pela definição dos líquidos.
Os líquidos são uma variedade dos fluidos. Diferentemente dos sólidos, os líquidos não mantêm sua forma com facilidade. Não fixam o espaço e não prendem o tempo. Não se atêm a nenhuma forma e estão constantemente prontos e propensos a mudá-la, em um espaço que, afinal, preenchem tão-só por um momento. (...) O autor emprestou a metáfora da ‘liquidez’ para caracterizar o estado da sociedade moderna porque esta, como os líquidos, singulariza-se por uma incapacidade de manter as formas. Diferentemente da sociedade moderna anterior, chamada por Bauman de ‘modernidade sólida’, que também estava sempre desmontando a realidade herdada, na tentativa de torná-la melhor e novamente sólida, agora tudo está em permanente estado de desmontagem, sem nenhuma perspectiva de permanência.
(...) O advento da modernidade líquida produziu profundas mudanças na condição humana, o que requer que repensemos os velhos conceitos que costumavam cercar as narrativas das estruturas sistêmicas, agora derretidas pelos fluidos. (...) Não resta dúvida — e Bauman está consciente disso — de que a metáfora do líquido ecoa os jovens Marx e Engels (...) quando prognosticavam que a vida moderna derrete os sólidos e profana o sagrado: em suma, que o capital irremediavelmente leva de roldão quaisquer valores acalentados pela tradição. Justamente com o título de seu livro, extraído de Marx e Engels, Tudo o que é sólido se dissolve no ar, Marshall Berman ganhou notoriedade
(...). Entretanto, Bauman estabeleceu com clareza a distinção entre a modernidade passada, já esenraizadora, e a presente. Enquanto lá desenraizava-se para dar um passo ante rumo a um novo enraizamento, agora todas as coisas — empregos, relacionamentos, afetos, o amor, know how etc. —tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desregulados, flexíveis.”
(Do livro Linguagens líquidas na era da mobilidade, de Lúcia Santaella. São Paulo: ed. Paulus, 2007.)
Os líquidos são uma variedade dos fluidos. Diferentemente dos sólidos, os líquidos não mantêm sua forma com facilidade. Não fixam o espaço e não prendem o tempo. Não se atêm a nenhuma forma e estão constantemente prontos e propensos a mudá-la, em um espaço que, afinal, preenchem tão-só por um momento. (...) O autor emprestou a metáfora da ‘liquidez’ para caracterizar o estado da sociedade moderna porque esta, como os líquidos, singulariza-se por uma incapacidade de manter as formas. Diferentemente da sociedade moderna anterior, chamada por Bauman de ‘modernidade sólida’, que também estava sempre desmontando a realidade herdada, na tentativa de torná-la melhor e novamente sólida, agora tudo está em permanente estado de desmontagem, sem nenhuma perspectiva de permanência.
(...) O advento da modernidade líquida produziu profundas mudanças na condição humana, o que requer que repensemos os velhos conceitos que costumavam cercar as narrativas das estruturas sistêmicas, agora derretidas pelos fluidos. (...) Não resta dúvida — e Bauman está consciente disso — de que a metáfora do líquido ecoa os jovens Marx e Engels (...) quando prognosticavam que a vida moderna derrete os sólidos e profana o sagrado: em suma, que o capital irremediavelmente leva de roldão quaisquer valores acalentados pela tradição. Justamente com o título de seu livro, extraído de Marx e Engels, Tudo o que é sólido se dissolve no ar, Marshall Berman ganhou notoriedade
(...). Entretanto, Bauman estabeleceu com clareza a distinção entre a modernidade passada, já esenraizadora, e a presente. Enquanto lá desenraizava-se para dar um passo ante rumo a um novo enraizamento, agora todas as coisas — empregos, relacionamentos, afetos, o amor, know how etc. —tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desregulados, flexíveis.”
(Do livro Linguagens líquidas na era da mobilidade, de Lúcia Santaella. São Paulo: ed. Paulus, 2007.)
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