segunda-feira, 25 de maio de 2009

ENCONTROS DE INTERROGAÇÃO (III)

A crítica de um texto literário, como apontou Ezra Pound, pode acontecer também de forma criativa, como acontece na tradução que recupera para a nossa época o artesanato lingüístico do texto original, ou ainda na releitura musical de um poema, que realça os seus jogos sonoros, rimas, assonâncias e aliterações. O próprio poema, como já vimos, é uma crítica de outros poemas. Quando a crítica tem esse caráter criativo, ela deixa de ser uma construção puramente conceitual para ser uma leitura material do texto de partida, não menos instigante e fecunda.

Para encerrar a minha fala, gostaria de abordar brevemente a questão da crítica acadêmica x crítica jornalística. A universidade, durante muito tempo, esteve focada num modelo de cânone que chegava até as primeiras décadas do século XX, ou seja, até Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, como se nada tivesse acontecido de significativo nos últimos 60 anos. Felizmente, esse quadro começa a mudar. Na Universidade de São Paulo, por exemplo, surgem algumas vozes dissonantes que desafiam as limitações do cânone e da leitura sociológica dos textos literários, voltando suas atenções para a poesia contemporânea, com ênfase nos aspectos estéticos e estruturais. É o caso de professores como Antônio Vicente Seraphim Pietroforte e Roberto Zular, não por acaso dois estudiosos da Poesia Concreta e estudiosos bem-informados sobre a vanguarda internacional. Na Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Esther Maciel também tem abordado autores vivos, como Wilson Bueno. Eu poderia citar outros casos, todos eles, sem dúvida, exceções à regra, mas exceções importantes, porque mostram a mudança que ocorre dentro de instituições tradicionalmente conservadoras.

A crítica que se desenvolve hoje na universidade é mais aberta, democrática e bem-informada do que a crítica jornalística, que segundo o meu ponto de vista, não reflete o que se faz de mais de mais substancial, em termos de linguagem, na poesia contemporânea. Quando poetas mais jovens lançam livros de poesia densos e elaborados e não merecem uma única resenha, acho isso um atestado de pobreza de nossa crítica jornalística, que muitas vezes cede espaço generoso a autores cujo trabalho de linguagem é apenas opaco. De todo modo, esse é um fato circunstancial. A crítica definitiva é a feita pela história: o que tem qualidade estética, permanece, o que não tem, será esquecido.

2 comentários:

  1. Muito interessante esse texto.
    Já cheguei a contactar alguns docentes universitários para mostrar meus poemas mas, em quase todos os casos, sequer recebi resposta.
    Quando contactei a Maria Esther Maciel pela primeira vez, a resposta veio rápida e encorajadora. Hoje mantemos um ótimo diálogo.

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  2. Caro Chico, ter uma resposta positiva de Maria Esther Maciel vale mais do que qualquer resenha. Parabéns, meu caro! Abraço,

    CD

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