James Cimino
Do UOL, em São Paulo
25/03/2015
Charge do cartunista Vitor Teixeira sobre os
Gladiadores do Altar, da Igreja Universal do Reino de Deus
A assessoria
jurídica da Igreja Universal do Reino de Deus pressionou extrajudicialmente o
cartunista Vitor Teixeira e retirar de sua página no Facebook uma charge que,
segundo ela, incita a intolerância religiosa.
A charge,
segundo seu autor, era uma crítica aos Gladiadores do Altar, grupo de fieis da
igreja que apareceram recentemente em diversos vídeos divulgados nas redes
sociais marchando, batendo continência e usando uniformes análogos aos do
Exército Brasileiro.
O grupo virou
alvo de críticas e de denúncias ao Ministério Público por ter sido visto como
análogo a uma organização paramilitar. A Universal nega as acusações e diz que
o grupo tem como objetivo "pregar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo".
Na
notificação, a advogada frisa que o grupo promove atividades "culturais,
sociais e esportivas para auxiliar no resgate e amparo de populações de rua,
viciados, jovens carentes e em conflito com a lei".
No desenho
feito por Teixeira, um homem com capacete de gladiador e uma camiseta com o
símbolo da Universal enfia uma espada em uma mãe de santo.
"Minha
intenção foi denunciar uma empresa que, a meu ver, está endossando a criação de
uma suposta milícia. E não sou apenas eu que acho isso, tanto que o assunto foi
levado ao Ministério Público. Estou debatendo a iniciativa de uma empresa, com
sede internacional, com um poderoso grupo de mídia por trás de si e com uma
assessoria jurídica que usou todo seu poder contra um cartunista independente.
Eles dizem que não irão me processar porque retirei a charge 'voluntariamente',
mas que opção eu tinha?"
Teixeira
disse ainda que a imagem da mãe de santo foi usada devido ao tratamento que a
igreja dá às religiões de matriz africana. Em 2007, o bispo Edir Macedo,
fundador da Universal, sofreu processo do Ministério Público e teve seu livro
"Orixás, Caboclos e Guias, deuses ou demônios?" retirado
temporariamente de circulação. No entanto o TRF da 1ª região entendeu que a
obra, apesar de conter expressões e mensagens preconceituosas, deveria voltar a
circular no intuito de prevalecer a liberdade de expressão, garantida pelo
artigo 5º da Constituição.
"Quando
vi os vídeos daqueles gladiadores, pensei que se existia um grupo que seria
alvo deles certamente seriam as religiões africanas, que já são atacadas em
seus cultos", disse o cartunista. Na notificação, a Universal nega que
incite ódio contra essas religiões. Diz apenas que "não concorda" com
elas.
Liberdade de Expressão
Logo após o
cartunista divulgar em seu perfil no Facebook a notificação que recebera, a
assessoria jurídica da igreja enviou outra correspondência dizendo que a
Universal "não trabalha nem nunca trabalhou baseada em ameaças" e que
"a pretexto da liberdade de expressão, não é admissível a incitação ao
ódio religioso".
Procurada
pela reportagem do UOL sobre o caso, a assessoria de imprensa
Igreja Universal do Reino de Deus respondeu:
"O autor
produziu e publicou uma ilustração acusando a Universal assassinar, ou de
pretender matar praticantes de religiões de matriz africana. Incitar o ódio é
crime. Acusar falsamente de cometer um crime, também é crime. No estado de
direito, a liberdade de expressão não autoriza ou legitima absurdos como tal
imagem horrenda, veiculada de modo irresponsável. Voluntariamente, o chargista
apagou a postagem, certamente por reconhecer o erro que cometeu. A Universal
respeita e defende as liberdades constitucionais de crença, de culto e de
opinião. Mas jamais aceitará calada ataques delinquentes de preconceito e
rancor. Casos semelhantes terão tratamento igual perante a Justiça."
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