OS MASTROS E A VELAS
A letra rouba a palavra que rouba
a imagem que rouba.
A letra mente à palavra que mente
à frase que mente ao autor que mente.
A letra sonha a palavra que sonha
a frase que acolhe a palavra que acolhe a letra.
A letra desliga a palavra que
desliga a imagem que desliga o dia.
A frase orna a palavra que orna a
letra que orna a ausência.
A letra despende a palavra que
despende a frase que despende o livro que despende o escritor que se arruína.
O POSSUÍDO
Para
reduzir o demônio – que é a imagem – e restabelecer o equilíbrio do terror
aquém e além das fronteiras de tinta, as palavras embruxadas executam uma dança
mágica semelhante, ao redor do feiticeiro mascarado, àquelas das tribos
primitivas.
Com
armas iguais.
Elas
têm o peito e o rosto pintados nas cores das manhãs que as ovelhas banham com
seu leite e os falcões, em seu amplo voo de rapina, com o sangue negro de sua caça.
O
fogo da cerimônia extinto, humildes vocábulos recolhidos a si mesmos, sua potência
de uma hora fora à altura do disfarce com o qual se desfizeram suas almas.
O
poema é para amanhã.
* * *
Busca meu nome nas antologias.
Tu o encontrarás e não o
encontrarás.
Busca meu nome nos dicionários.
Tu o encontrarás e não o
encontrarás.
Busca meu nome nas enciclopédias.
Tu o encontrarás e não o
encontrarás.
Que importa? Terei eu jamais tido
um nome?
Também, quando eu morrer, não
busques
meu nome nos cemitérios
nem alhures.
E para de atormentar, hoje,
aquele
que não pode responder ao
chamado.
Tradução: Eclair Antonio Almeida Filho
Confiram mais poemas de Jabès na edição de fevereiro da Zunái, que está no forno...
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