segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

POEMAS DE EDMOND JABÈS



OS MASTROS E A VELAS

A letra rouba a palavra que rouba a imagem que rouba.

A letra mente à palavra que mente à  frase que mente ao autor que mente.

A letra sonha a palavra que sonha a frase que acolhe a palavra que acolhe a letra.

A letra desliga a palavra que desliga a imagem que desliga o dia.

A frase orna a palavra que orna a letra que orna a ausência.

A letra despende a palavra que despende a frase que despende o livro que despende o escritor que se arruína.



            O POSSUÍDO

            Para reduzir o demônio – que é a imagem – e restabelecer o equilíbrio do terror aquém e além das fronteiras de tinta, as palavras embruxadas executam uma dança mágica semelhante, ao redor do feiticeiro mascarado, àquelas das tribos primitivas.
            Com armas iguais.
            Elas têm o peito e o rosto pintados nas cores das manhãs que as ovelhas banham com seu leite e os falcões, em seu amplo voo de rapina, com o sangue negro de sua caça.
            O fogo da cerimônia extinto, humildes vocábulos recolhidos a si mesmos, sua potência de uma hora fora à altura do disfarce com o qual se desfizeram suas almas.
            O poema é para amanhã.


* * *

Busca meu nome nas antologias.
Tu o encontrarás e não o encontrarás.
Busca meu nome nos dicionários.
Tu o encontrarás e não o encontrarás.
Busca meu nome nas enciclopédias.
Tu o encontrarás e não o encontrarás.
Que importa? Terei eu jamais tido um nome?
Também, quando eu morrer, não busques
meu nome nos cemitérios
nem alhures.
E para de atormentar, hoje, aquele
que não pode responder ao chamado.

Tradução: Eclair Antonio Almeida Filho

Confiram mais poemas de Jabès na edição de fevereiro da Zunái, que está no forno...

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