ARNALDO ANTUNES, O POETA DAS PALAVRAS E DAS COISAS
Arnaldo Antunes é um poeta que
dialoga com o Tropicalismo e a Poesia Concreta, mas também com a tradição
clássica, com sua métrica e rimas (“Pensamento vem de fora / e pensa que vem de
dentro”), a canção popular, a tecnologia eletrônica e as artes visuais, como o
desenho e a fotografia. Sua jornada poética começou em 1986, com a publicação
do livro Ou e, composto de poemas
caligráficos que exploram a dimensão visual das palavras, e logo seguiram
outros, como Tudos (1990), As Coisas (1992, prêmio Jabuti de
poesia), Nome (1993, trilogia
composta de livro, CD e fita de vídeo), 2
ou + corpos no mesmo espaço (1997), Et
Eu Tu (2003, em parceria com a fotógrafa Márcia Xavier), Como É Que Chama o Nome Disso (2006) e N. D. A. (2010). Em seus textos
criativos, que não raro dissolvem as fronteiras entre a prosa e a poesia (o que
é mais nítido no livro As Coisas),
Arnaldo Antunes utiliza técnicas de diagramação, diferentes fontes, cores e
corpos de letras, que moldam o sentido construtivo de cada composição. Sua
estratégia de buscar novas formas de expressão poética levaram-no a fazer
experiências que unem a palavra, a imagem, o som, o movimento, cujo resultado
mais inventivo é o trabalho Nome.
Arnaldo Antunes retoma a proposta “verbivocovisual” do movimento concretista,
mas em outro diapasão, que aceita também a influência da linguagem das
histórias em quadrinhos, das placas de sinalização, dos videoclipes e outros ícones
da cultura de massa dos centros urbanos. Estes elementos são visíveis em seus
poemas publicados em livros e também nas suas canções – ele integrou a banda de
rock Titãs, na década de 1980, com a qual gravou sete discos, entre eles o clássico
Cabeça dinossauro, e depois iniciou
carreira solo, lançando discos como O
silêncio, Um som, O corpo (trilha para dança), Paradeiro, Saiba, Qualquer,
Ao Vivo no Estúdio (também em DVD), entre outros.
A linguagem coloquial da música pop
está presente no trabalho criativo do poeta, assim como a fragmentação semântica
do concretismo, o absurdo intencional de Gertrude Stein, o discurso e o imaginário
das crianças – Arnaldo Antunes transforma as perplexidades do mundo infantil em
versos anárquicos e contundentes (“como é que chama o nome disso?”). O próprio
estilo caligráfico do poeta está impregnado da “mão infantil”, que traz para a
escrita poética o encantamento de um olhar primitivo, de descoberta – ou redescoberta
– dos nomes e das coisas. Em Palavra
desordem (2002), por sua vez, o poeta cria paródias de anúncios publicitários:
em oposição ao olhar receptivo de quem busca nomear as coisas, próprio do
universo lúdico da criança, Arnaldo revela aqui o olhar da cultura de massa,
que trabalha com a síntese, a concisão, os trocadilhos e ao mesmo tempo com o
clichê e a redundância. Ao parodiar o estilo publicitário, Arnaldo faz uma
crítica bem-humorada e provocativa ao repertório midiático. Em Et
Tu Eu (2003), o artista mutante faz uma nova peripécia,
dessa vez em diálogo com a fotografia de Márcia Xavier: palavras e imagens se
completam, se opõem, se interpenetram, deixando ao leitor apenas pistas de
significação. Há diversos outros aspectos que podem ser observados no trabalho
de Arnaldo Antunes, um dos autores mais inventivos da atual literatura
brasileira, mas vale a pena destacar suas intervenções na chamada poesia
digital ou eletrônica, da qual é um dos precursores no Brasil, ao lado de
Augusto de Campos, e sua atuação no campo da performance, em que o próprio
corpo do poeta participa do fazer poético. Em 2011, aliás, o autor participou
do festival ibero-americano de poesia performática 2011 poetas por km2, que aconteceu no Centro Cultural São Paulo (CCSP),
que também apresentou seus experimentos na área da poesia digital na mostra Videopoéticas, que teve a curadoria de
Elson Fróes. Já em 2012, Arnaldo Antunes participou da performance
transoceânica PEDRA, juntamente com
o artista visual Frederic Amal, de Barcelona – o evento, que aconteceu
simultaneamente no Brasil e na Espanha, com transmissão via internet, faz parte
da programação da Anilla Cultural, promovida pelo Centro Cultural São Paulo em
parceria com instituições ibero-americanas. Arnaldo Antunes é um poeta que
experimenta novas possibilidades para a poesia, indo além do livro como suporte
e da palavra como única linguagem: tudo, para ele, pode ser transformado em
poesia.
(Artigo publicado na edição de
fevereiro da revista CULT)
uma poética que talvez ecoe o tractatus, do wittgenstein; porque ali a palavra tem algo em comum com o mundo - e este algo em comum ela não diz, mas exibe/mostra.
ResponderExcluirpor isso uma poesia de rompimento das fronteiras do dizer. acho fantástico.
tenho a revista, ficou muito 10 a coluna, claudio.
beijo,
mar