O Fórum Social Mundial Palestina
Livre, que aconteceu entre 28 de novembro e 01 de dezembro de 2012 em Porto Alegre (RS),
foi o maior evento internacional de solidariedade à causa palestina realizado
até hoje, com a presença de convidados de 36 países. O evento aconteceu poucos
dias após o brutal ataque sionista à Faixa de Gaza, que chocou o mundo com as
imagens de crianças palestinas mortas pela aviação israelense, em mais uma
demonstração da guerra assimétrica conduzida por Israel contra a população palestina.
A solidariedade dos povos do mundo com o heroico povo palestino manifestou-se
em dois acontecimentos de importância histórica, ocorridos em 29 de novembro: a
marcha de abertura do FSMPL, que reuniu cerca de dez mil ativistas de vários
países, e a aprovação do ingresso da Palestina como estado observador na
Organização das Nações Unidas, uma vitória da Autoridade Nacional Palestina que
abre caminho para uma futura negociação para seu reconhecimento como membro
pleno da organização, o que passa, obviamente, pela formação de um estado
palestino livre, independente e soberano, de acordo com as fronteiras de 1967,
ao lado do estado judeu – ou seja, a proposta de Dois Estados, há muito tempo
defendida pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Como estado
observador, porém, a Palestina já pode denunciar os crimes de guerra de Israel
contra a população civil em Gaza e Cisjordânia no Tribunal Penal Internacional,
o que teria conseqüências no debate político na mídia e contribuiria para
fortalecer o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra
Israel – por exemplo, campanhas pelo fim dos acordos militares entre Brasil e o
regime sionista, ou ainda a denúncia dos acordos comerciais firmados entre Tel
Aviv e o Mercosul.
Todos estes temas e muitos outros – a ideologia sionista,
estratégias de boicote, resistência pacífica, arte de resistência etc. – foram
discutidos no FSMPL ao longo de quatro dias, em cerca de 150 atividades, entre
conferências, debates e apresentações poéticas e musicais, assistidas por mais
de cinco mil pessoas. O FSMPL, que desde a sua fase preparatória sofreu intensa
pressão das entidades sionistas brasileiras, que procuraram impedir a sua
realização, repercutiu também nos blogues, sites e portais independentes, como
Opera Mundi e Portal Vermelho, nas redes sociais, especialmente no Facebook, e
foi matéria inclusive na imprensa diária, que não conseguiu evitar o tema. O
muro de silêncio em torno da questão palestina foi derrubado, e o consenso
moral em torno do suposto direito de defesa de Israel contra “ameaças
terroristas” não existe mais: está cada vez mais claro para a opinião pública –
apesar da influência sionista na mídia – que os palestinos têm direito a um
estado e a lutar por sua independência e soberania. O isolamento de Israel
nunca foi tão grande como hoje, e o seu campo de apoio no cenário internacional
se resume, basicamente, aos Estados Unidos e seus aliados mais próximos, como
Panamá e Canadá – a própria União Européia mostra-se pouco confortável com os assentamentos
ilegais de colonos israelenses na Cisjordânia e Jerusalém Oriental e a
retenção, por Israel, dos impostos que deveriam ser pagos à Autoridade Nacional
Palestina, entre outras ações que mostram o pouco interesse de Israel, neste
momento, em negociações de paz sérias. Até mesmo antigos aliados de Israel na
Europa, como Alemanha e Grã-Bretanha, se afastaram do alinhamento imediato e
incondicional com o regime sionista, optando pela abstenção (em vez do voto
contrário) durante a votação realizada na ONU. Hoje, está mais claro do que
nunca que a arrogância dos líderes israelenses é o verdadeiro obstáculo a uma
paz justa e verdadeira, e com essa postura eles ficam cada vez mais sozinhos.
O quadro político que surge com o
ingresso da Palestina na ONU é resultado de uma somatória de fatores, que não
cabe analisar aqui, mas é indiscutível que os movimentos de solidariedade ao
povo palestino foram – e são – um dos principais agentes para a reviravolta
política em curso, cujo símbolo mais expressivo foi justamente o FSMPL,
construído graças ao apoio das mais expressivas entidades da sociedade civil
brasileira. O êxito inegável do
Fórum revelou, de forma contundente, a importância da unidade entre os partidos
progressistas, centrais sindicais, entidades estudantis, culturais e populares
para construirmos ações eficazes de solidariedade ao povo palestino. Uma das
principais forças que colaboraram para a realização do FSMPL foi o Comitê pelo
Estado da Palestina Já, integrado por mais de 50 entidades, incluindo as seis
maiores centrais sindicais brasileiras, Federação Árabe Palestina (Fepal),
Federação de Entidades Árabes Brasileiras (Fearab), MST, UNE, UBES, Conam,
partidos políticos como o PT, PC do B, PSB, PPL, entidades de mulheres, negros
e da juventude, e ainda entidades culturais, como a Bibliaspa – Biblioteca
/ Centro de Pesquisa América do Sul - Países Árabes e a revista Zunái.
O Comitê esteve engajado em
todas as fases de organização do Fórum e teve presença destacada na marcha de
abertura do evento, em dezenas de mesas temáticas e sobretudo na plenária de
entidades, realizada no dia 30, com um público de cerca de 300 pessoas. O
Comitê distribuiu, gratuitamente, 2.500 exemplares do livro Justiça, paz e liberdade para o povo
palestino, organizado pelo prof. Lejeune Mirhan, e a Bibliaspa organizou o lançamento de livros como A terra nos é estreita e outros poemas, do poeta palestino Mahmoud
Darwish, traduzido pelo prof. dr. Paulo Farah, e Noite grande, romance escrito pelo brasileiro-palestino Permínio
Asfora, autor elogiado por Guimarães Rosa e Jorge Amado, que faz um inédito
relato da presença palestina na sociedade brasileira. A revista Zunái, que integra o Comitê pelo Estado
da Palestina Já, distribuiu para o público reunido no Fórum 200 exemplares da
plaquete Poemas para a Palestina,
antologia organizada por Claudio Daniel com textos de 15 autores brasileiros
contemporâneos, que escreveram poemas dedicados à emancipação do povo
palestino. Hoje, a Palestina é um tema da poesia brasileira, sinal inequívoco
de que nossos artistas, escritores e intelectuais estão cada vez mais
simpáticos à causa palestina (e vale a pena aqui recordar o manifesto Somos todos palestinos, divulgado em
2011 pela revista Zunái, que somou
50 assinaturas de apoio, entre elas as de Milton Hatoum, Mamede Jarouche, Luiz
Costa Lima e Armando Freitas Filho). A luta do povo palestino por sua
libertação nacional, como já declarou o prof.
Lejeune Mirhan, é a mais justa e a mais revolucionária de nossa época,
porque é um enfrentamento direto com os interesses dos sionistas e do
imperialismo norte-americano, que visam controlar todo o Oriente Médio, se
apoderar das fontes de petróleo, das rotas comerciais, dos pontos estratégicos
e do mercado consumidor destes países, valendo-se para isso da agressão
militar, como nos casos do Iraque e do Afeganistão, ou do fomento a guerras
civis sectárias, entre tribos ou grupos religiosos, como aconteceu na
Líbia e hoje se repete na Síria, além
das constantes ameaças ao Irã. A vitória do povo palestino será uma vitória de
todos os povos e nações que lutam contra o imperialismo norte-americano.
O Fórum Social
Mundial Palestina Livre foi um marco desta luta, mas em 2013 novos desafios nos
aguardam, como a preparação da II Missão de Solidariedade à Palestina,
organizada pelo Comitê pelo Estado da Palestina Já, que levará um grupo de 40
ativistas brasileiros aos territórios palestinos. É importante também
fortalecer o próprio Comitê, com o ingresso de outros partidos e organizações
que defendam a mesma causa, sempre com espírito pluralista e democrático. É
possível promover atividades culturais de intercâmbio entre poetas e escritores
do Brasil e da Palestina, um compromisso assumido pela revista Zunái, que desde 2011 publica os Cadernos da Palestina e colabora na
organização de eventos como a Noite
Palestina, espetáculo de poesia, música e dança apresentado no Centro
Cultural São Paulo, no mês de aniversário da Nakba, e a exposição fotográfica Palestina: a ferida aberta, apresentada
na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, por ocasião dos 30 anos do massacre de Sabra
e Chatila. Atividades culturais são de vital importância para a veiculação dos
temas relacionados à causa palestina a um público mais amplo. Por fim,
esperamos que em 2013 o governo brasileiro estreite ainda mais o comércio e
outras ações bilaterais com a Autoridade Nacional Palestina, seguindo o rumo
traçado nas gestões de Lula e Dilma, que colocaram o Brasil na vanguarda do
apoio internacional à causa da emancipação palestina.
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