quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL PALESTINA LIVRE: UMA VITÓRIA DA SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL



O Fórum Social Mundial Palestina Livre, que aconteceu entre 28 de novembro e 01 de dezembro de 2012 em Porto Alegre (RS), foi o maior evento internacional de solidariedade à causa palestina realizado até hoje, com a presença de convidados de 36 países. O evento aconteceu poucos dias após o brutal ataque sionista à Faixa de Gaza, que chocou o mundo com as imagens de crianças palestinas mortas pela aviação israelense, em mais uma demonstração da guerra assimétrica conduzida por Israel contra a população palestina. A solidariedade dos povos do mundo com o heroico povo palestino manifestou-se em dois acontecimentos de importância histórica, ocorridos em 29 de novembro: a marcha de abertura do FSMPL, que reuniu cerca de dez mil ativistas de vários países, e a aprovação do ingresso da Palestina como estado observador na Organização das Nações Unidas, uma vitória da Autoridade Nacional Palestina que abre caminho para uma futura negociação para seu reconhecimento como membro pleno da organização, o que passa, obviamente, pela formação de um estado palestino livre, independente e soberano, de acordo com as fronteiras de 1967, ao lado do estado judeu – ou seja, a proposta de Dois Estados, há muito tempo defendida pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Como estado observador, porém, a Palestina já pode denunciar os crimes de guerra de Israel contra a população civil em Gaza e Cisjordânia no Tribunal Penal Internacional, o que teria conseqüências no debate político na mídia e contribuiria para fortalecer o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel – por exemplo, campanhas pelo fim dos acordos militares entre Brasil e o regime sionista, ou ainda a denúncia dos acordos comerciais firmados entre Tel Aviv e o Mercosul. 

Todos estes temas e muitos outros – a ideologia sionista, estratégias de boicote, resistência pacífica, arte de resistência etc. – foram discutidos no FSMPL ao longo de quatro dias, em cerca de 150 atividades, entre conferências, debates e apresentações poéticas e musicais, assistidas por mais de cinco mil pessoas. O FSMPL, que desde a sua fase preparatória sofreu intensa pressão das entidades sionistas brasileiras, que procuraram impedir a sua realização, repercutiu também nos blogues, sites e portais independentes, como Opera Mundi e Portal Vermelho, nas redes sociais, especialmente no Facebook, e foi matéria inclusive na imprensa diária, que não conseguiu evitar o tema. O muro de silêncio em torno da questão palestina foi derrubado, e o consenso moral em torno do suposto direito de defesa de Israel contra “ameaças terroristas” não existe mais: está cada vez mais claro para a opinião pública – apesar da influência sionista na mídia – que os palestinos têm direito a um estado e a lutar por sua independência e soberania. O isolamento de Israel nunca foi tão grande como hoje, e o seu campo de apoio no cenário internacional se resume, basicamente, aos Estados Unidos e seus aliados mais próximos, como Panamá e Canadá – a própria União Européia mostra-se pouco confortável com os assentamentos ilegais de colonos israelenses na Cisjordânia e Jerusalém Oriental e a retenção, por Israel, dos impostos que deveriam ser pagos à Autoridade Nacional Palestina, entre outras ações que mostram o pouco interesse de Israel, neste momento, em negociações de paz sérias. Até mesmo antigos aliados de Israel na Europa, como Alemanha e Grã-Bretanha, se afastaram do alinhamento imediato e incondicional com o regime sionista, optando pela abstenção (em vez do voto contrário) durante a votação realizada na ONU. Hoje, está mais claro do que nunca que a arrogância dos líderes israelenses é o verdadeiro obstáculo a uma paz justa e verdadeira, e com essa postura eles ficam cada vez mais sozinhos.

O quadro político que surge com o ingresso da Palestina na ONU é resultado de uma somatória de fatores, que não cabe analisar aqui, mas é indiscutível que os movimentos de solidariedade ao povo palestino foram – e são – um dos principais agentes para a reviravolta política em curso, cujo símbolo mais expressivo foi justamente o FSMPL, construído graças ao apoio das mais expressivas entidades da sociedade civil brasileira. O êxito inegável do Fórum revelou, de forma contundente, a importância da unidade entre os partidos progressistas, centrais sindicais, entidades estudantis, culturais e populares para construirmos ações eficazes de solidariedade ao povo palestino. Uma das principais forças que colaboraram para a realização do FSMPL foi o Comitê pelo Estado da Palestina Já, integrado por mais de 50 entidades, incluindo as seis maiores centrais sindicais brasileiras, Federação Árabe Palestina (Fepal), Federação de Entidades Árabes Brasileiras (Fearab), MST, UNE, UBES, Conam, partidos políticos como o PT, PC do B, PSB, PPL, entidades de mulheres, negros e da juventude, e ainda entidades culturais, como a Bibliaspa – Biblioteca / Centro de Pesquisa América do Sul - Países Árabes e a revista Zunái.  

O Comitê esteve engajado em todas as fases de organização do Fórum e teve presença destacada na marcha de abertura do evento, em dezenas de mesas temáticas e sobretudo na plenária de entidades, realizada no dia 30, com um público de cerca de 300 pessoas. O Comitê distribuiu, gratuitamente, 2.500 exemplares do livro Justiça, paz e liberdade para o povo palestino, organizado pelo prof. Lejeune Mirhan, e a Bibliaspa organizou o lançamento de livros como A terra nos é estreita e outros poemas, do poeta palestino Mahmoud Darwish, traduzido pelo prof. dr. Paulo Farah, e Noite grande, romance escrito pelo brasileiro-palestino Permínio Asfora, autor elogiado por Guimarães Rosa e Jorge Amado, que faz um inédito relato da presença palestina na sociedade brasileira. A revista Zunái, que integra o Comitê pelo Estado da Palestina Já, distribuiu para o público reunido no Fórum 200 exemplares da plaquete Poemas para a Palestina, antologia organizada por Claudio Daniel com textos de 15 autores brasileiros contemporâneos, que escreveram poemas dedicados à emancipação do povo palestino. Hoje, a Palestina é um tema da poesia brasileira, sinal inequívoco de que nossos artistas, escritores e intelectuais estão cada vez mais simpáticos à causa palestina (e vale a pena aqui recordar o manifesto Somos todos palestinos, divulgado em 2011 pela revista Zunái, que somou 50 assinaturas de apoio, entre elas as de Milton Hatoum, Mamede Jarouche, Luiz Costa Lima e Armando Freitas Filho). A luta do povo palestino por sua libertação nacional, como já declarou o prof.  Lejeune Mirhan, é a mais justa e a mais revolucionária de nossa época, porque é um enfrentamento direto com os interesses dos sionistas e do imperialismo norte-americano, que visam controlar todo o Oriente Médio, se apoderar das fontes de petróleo, das rotas comerciais, dos pontos estratégicos e do mercado consumidor destes países, valendo-se para isso da agressão militar, como nos casos do Iraque e do Afeganistão, ou do fomento a guerras civis sectárias, entre tribos ou grupos religiosos, como aconteceu na Líbia  e hoje se repete na Síria, além das constantes ameaças ao Irã. A vitória do povo palestino será uma vitória de todos os povos e nações que lutam contra o imperialismo norte-americano.

O Fórum Social Mundial Palestina Livre foi um marco desta luta, mas em 2013 novos desafios nos aguardam, como a preparação da II Missão de Solidariedade à Palestina, organizada pelo Comitê pelo Estado da Palestina Já, que levará um grupo de 40 ativistas brasileiros aos territórios palestinos. É importante também fortalecer o próprio Comitê, com o ingresso de outros partidos e organizações que defendam a mesma causa, sempre com espírito pluralista e democrático. É possível promover atividades culturais de intercâmbio entre poetas e escritores do Brasil e da Palestina, um compromisso assumido pela revista Zunái, que desde 2011 publica os Cadernos da Palestina e colabora na organização de eventos como a Noite Palestina, espetáculo de poesia, música e dança apresentado no Centro Cultural São Paulo, no mês de aniversário da Nakba, e a exposição fotográfica Palestina: a ferida aberta, apresentada na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, por ocasião dos 30 anos do massacre de Sabra e Chatila. Atividades culturais são de vital importância para a veiculação dos temas relacionados à causa palestina a um público mais amplo. Por fim, esperamos que em 2013 o governo brasileiro estreite ainda mais o comércio e outras ações bilaterais com a Autoridade Nacional Palestina, seguindo o rumo traçado nas gestões de Lula e Dilma, que colocaram o Brasil na vanguarda do apoio internacional à causa da emancipação palestina.

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