domingo, 30 de dezembro de 2012

ADEUS, DRUMMOND


Sinceridade? O culto devocional ao Drummond já encheu o saco há muito tempo. É óbvio que foi um grande poeta -- assim como Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto e Haroldo de Campos -- mas essa bajulação póstuma não acrescenta nada à sua obra, serve apenas para favorecer os lançamentos de grandes editoras e para "justificar" poéticas frágeis, de autores que imitam (mal) a poesia de circunstância drummundana. É mais fácil requentar o poema-piada pela milésima vez do que escrever A Máquina do Mundo. Claro que o Modernismo dos anos 20 e 30 trouxe imensas contribuições à nossa poesia, muito além do poema-piada, da temática cotidiana e da linguagem coloquial. Aliás, há vários modernismos dentro do Modernismo. Cobra Norato, de Raul Bopp, por exemplo, é um livro muito interessante, que antecipa a etnopoesia e atira o dardo mais longe, em construções sonoras e sintáticas inusitadas, que ainda hoje soam muito modernas. Luiz Aranha, redescoberto nos anos 80 por Nelson Ascher, é outro poeta pouco lido hoje e ainda instigante, com seus diálogos com o cinema e a cultura japonesa (o haikai inclusive, e não só). Jorge de Lima, com sua experiência de poema longo (work in progress) em Invenção de Orfeu. E os Drummonds menos frequentados que há em Drummond, poeta plural. É preciso rever o Modernismo com olhos contemporâneos, não para repetir os seus cacoetes mais fáceis, e sim para repensarmos aquilo que ainda não foi totalmente exaurido em suas vertentes mais experimentais -- sobretudo Oswald de Andrade (autor mais difícil e rico em leituras e interpretações do que supõe quem o leu superficialmente). Por exemplo, ainda faz falta uma revisão crítica da presença do surrealismo na poesia brasileira -- ainda que não tenha existido um grupo surrealista nos anos 20 em São Paulo, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro, há evidente influência surrealista na imagética de Oswald, Murilo e Jorge de Lima.

4 comentários:

  1. Claudio, o correlato negativo desse culto se expressa na total falta de reconhecimento a autores como Hélio Pellegrino, Oscar Bertholdo e Max Martins...

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  2. Os três brasileiros e grandiosos.

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  3. Lembrando: "É óbvio que foi um grande poeta". Concordo plenamente.

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  4. Concordo plenamente, Marceli! O Max Martins, em especial, é um grande poeta que o Brasil ainda desconhece...

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