Sinceridade? O culto devocional ao
Drummond já encheu o saco há muito tempo. É óbvio que foi um grande poeta --
assim como Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto e Haroldo de Campos -- mas
essa bajulação póstuma não acrescenta nada à sua obra, serve apenas para
favorecer os lançamentos de grandes editoras e para "justificar"
poéticas frágeis, de autores que imitam (mal) a poesia de circunstância drummundana.
É mais fácil requentar o poema-piada pela milésima vez do que escrever A Máquina do Mundo. Claro que o Modernismo
dos anos 20 e 30 trouxe imensas contribuições à nossa poesia, muito além do
poema-piada, da temática cotidiana e da linguagem coloquial. Aliás, há vários
modernismos dentro do Modernismo. Cobra
Norato, de Raul Bopp, por exemplo, é um livro muito
interessante, que antecipa a etnopoesia e atira o dardo mais longe, em
construções sonoras e sintáticas inusitadas, que ainda hoje soam muito
modernas. Luiz Aranha, redescoberto nos anos 80 por Nelson Ascher, é outro
poeta pouco lido hoje e ainda instigante, com seus diálogos com o cinema e a
cultura japonesa (o haikai inclusive, e não só). Jorge de Lima, com sua
experiência de poema longo (work in
progress) em Invenção de Orfeu. E
os Drummonds menos frequentados que há em Drummond, poeta plural. É preciso rever o
Modernismo com olhos contemporâneos, não para repetir os seus cacoetes mais
fáceis, e sim para repensarmos aquilo que ainda não foi totalmente exaurido em
suas vertentes mais experimentais -- sobretudo Oswald de Andrade (autor mais
difícil e rico em leituras e interpretações do que supõe quem o leu superficialmente).
Por exemplo, ainda faz falta uma revisão crítica da presença do surrealismo na
poesia brasileira -- ainda que não tenha existido um grupo surrealista nos anos
20 em São Paulo ,
Belo Horizonte ou Rio de Janeiro, há evidente influência surrealista na
imagética de Oswald, Murilo e Jorge de Lima.
domingo, 30 de dezembro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Claudio, o correlato negativo desse culto se expressa na total falta de reconhecimento a autores como Hélio Pellegrino, Oscar Bertholdo e Max Martins...
ResponderExcluirOs três brasileiros e grandiosos.
ResponderExcluirLembrando: "É óbvio que foi um grande poeta". Concordo plenamente.
ResponderExcluirConcordo plenamente, Marceli! O Max Martins, em especial, é um grande poeta que o Brasil ainda desconhece...
ResponderExcluir