sexta-feira, 23 de setembro de 2011

POEMAS DE NESTOR PERLONGHER (I)

O AYAHUASQUEIRO

sobre uma pintura de Pablo Amaringo


FOSFORESCENTE DELFINADO: pélago casteleiro em celestinagem morenos membros de meninos submergem sobressaindo rubra a cabeça da água onde nadam ou brincam escamosos unicórnios-do-mar simu-lando lado a lado atrás de uma sereia, delfim enamorado pelo azul nas ondas que sulca em saltos, seu sutil “desmunhecar” — de áureas linhas de raios orlado — ressalta no mergulho a redonda divisão dos grandes volumes molhados. Da água um pouco mais que azul, já prússia, a oleo-sidade transtorna o almíscar para desatar a fumaça que lambe — isto se vê — as tangas de geometrias auriverdes que cingem ou bordejam as cinturas de duas índias sem sutiã. À da direita, as vagas salpicavam uma mistura de açúcar metalizado, numa invasão de pontos, à distância da loura (arde a água embaixo) cabeleira. Da mão da outra saía um lenci-nho vermelho como pimentão que acariciava as espáduas de galápago de um sábio de chapelão achatado cujas mãos emitiam duplas rajadas de energia sanguínea como as veias do braço que alçava a irradiação. Sobre ambas náiades desnudas (finíssimos mamilos: o bico de um pin-cel), um templo cambojano de cujo flanco fluia uma cascata. O sá-bio milagroso sobre uma esfera de águas aéreas inclinava o poder de suas falanges. Uma mulher flutuava quase submersa nesse círculo de água.


Tradução: Claudio Daniel

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