ETERNO
Entre uma flor colhida e o dom de outra
o nada inexprimível
NOITE DE MAIO
O céu põe sobre
os minaretes
guirlandas de luzes
SOU UMA CRIATURA
Como esta pedra
de São Miguel
tão fria
tão dura
tão ressecada
tão refratária
tão totalmente
exânime
Como esta pedra
é o meu pranto
que não se vê
A morte
desconta-se
vivendo
ATRITO
Com minha fome de lobo
amaino
meu corpo de cordeiro
Sou como
a barca ínfima
e o libidinoso oceano
MANHÃ
Deslumbro-me
de imenso
RECORDAÇÃO AFRICANA
O sol rapta a cidade
Nada mais se vê
Nem mesmo os túmulos resistem muito
Tradução: Haroldo de Campos
(Do livro Ungaretti: daquela estrela à outra, organizado por Lúcia Wataghin, com traduções de Haroldo de Campos e Aurora Bernardini. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003)
Prezado Prof. Claudio Daniel
ResponderExcluir"A morte desconta-se vivendo" é um verso precioso.
ETERNO
ResponderExcluir"Entre uma flor colhida e outra dada
o inexprimível nada"
Giuseppe Ungaretti
(de "SENTIMENTO DO TEMPO", Selecção e tradução de Orlando de Carvalho, Publicações Dom Quixote, Fevereiro de 1971)
Uma outra valiosa tradução do poeta.
Claudio, terminei ainda agorinha um livro de Gabriel Delibes onde o narrador cita Ungaretti. Curiosa, digitei no Google "poemas de Ungaretti" e eis que aparece no topo de pesquisa seu blog!
ResponderExcluirÔ coisa boa, hein?
Beijos-queijos!
Que legal, querida!
ResponderExcluirBeijos,
Cld.