segunda-feira, 12 de setembro de 2011

POEMAS DE GIUSEPPE UNGARETTI


ETERNO

Entre uma flor colhida e o dom de outra
o nada inexprimível


NOITE DE MAIO

O céu põe sobre
os minaretes
guirlandas de luzes


SOU UMA CRIATURA

Como esta pedra
de São Miguel
tão fria
tão dura
tão ressecada
tão refratária
tão totalmente
exânime

Como esta pedra
é o meu pranto
que não se vê

A morte
desconta-se
vivendo


ATRITO

Com minha fome de lobo
amaino
meu corpo de cordeiro

Sou como
a barca ínfima
e o libidinoso oceano


MANHÃ

Deslumbro-me
de imenso


RECORDAÇÃO AFRICANA

O sol rapta a cidade

Nada mais se vê

Nem mesmo os túmulos resistem muito


Tradução: Haroldo de Campos


(Do livro Ungaretti: daquela estrela à outra, organizado por Lúcia Wataghin, com traduções de Haroldo de Campos e Aurora Bernardini. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003)

4 comentários:

  1. Celso Vegro14.9.11

    Prezado Prof. Claudio Daniel
    "A morte desconta-se vivendo" é um verso precioso.

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  2. ETERNO

    "Entre uma flor colhida e outra dada
    o inexprimível nada"

    Giuseppe Ungaretti

    (de "SENTIMENTO DO TEMPO", Selecção e tradução de Orlando de Carvalho, Publicações Dom Quixote, Fevereiro de 1971)

    Uma outra valiosa tradução do poeta.

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  3. Claudio, terminei ainda agorinha um livro de Gabriel Delibes onde o narrador cita Ungaretti. Curiosa, digitei no Google "poemas de Ungaretti" e eis que aparece no topo de pesquisa seu blog!

    Ô coisa boa, hein?

    Beijos-queijos!

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  4. Que legal, querida!

    Beijos,

    Cld.

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