terça-feira, 27 de setembro de 2011

ESQUELETOS DO NUNCA (VI)


DIFRAÇÃO


Difração é o tempo em que viajamos entre palavras e coisas, memórias e ressentimentos. Nossos focinhos avançam para além dos retratos e nada encontramos além de fungos, fiapos, fêmures.

(Do Dicionário Pessoal de Bolso, I)


SOMBRA (I)

Mortos habitam meu poema. Defraudam a sombra. Esqueletos do nunca, mastigam cada palavra, depois lambem os ossos.

(Entre as pálpebras, cuándo, mi señora?)


SOMBRA (II)

Paul Celan veio aqui, fumou um cigarro, depois jogou-se no rio Sena.

(Paris, a cidade das luzes)


VOLUME, COR

Navega-me, hidrófoba, acende linhas e planos, com a paleta da língua; coxas expandem-se, laboriosas, quando tudo é pele, volume e cor, quando tudo é estrondo.

(Do Diário Sentimental)


DUAS IRMÃS

Mordiam-se nos mamilos, durante o banho; unhavam-se, lambiam-se, como gatas.

(Ao sul do Equador)


DISPERSÃO

Dispersão é o tempo em que répteis assistem a noticiários de TV enquanto garotos primitivos como as flores saqueiam supermercados e os incendeiam.

(Do Dicionário Pessoal de Bolso, II)


PROFECIA

Quando chegar a Mulher Toda Nua, com a sua pose criselefantina, o poeta dirá as coisas mais terríveis; tirará dos bolsos as cartas dos quatro naipes e exigirá um Sentido que não seja o da mera trama do acaso, mas ela rirá de sua face nervurada e o pisará com o mais puro desprezo.

(Do Livro das Profecias )

2 comentários:

  1. Anônimo28.9.11

    Eu particular mente gosto de todos mas esse me toma a atenção SOMBRA (II)

    Paul Celan veio aqui, fumou um cigarro, depois jogou-se no rio Sena.

    beijos

    Tanya cabeza!

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  2. CD, ma-ra-vi-lhas na sua eterna ilha... Gosto demais dos seus poemas!!! Bj.

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