terça-feira, 23 de agosto de 2011

POEMAS DE JUDITH TEIXEIRA

O ANÃO DA MÁSCARA VERDE

As árvores seculares
do meu jardim,
em murmúrios de segredo –
falam de mim,
riscando no horizonte
longas figuras de medo…

O silêncio fala
balançando os esguios esqueletos
das árvores desgrenhadas!
Apagaram se as velas perfumadas
do lampadário da minha sala…
As aves em voos inquietos
passam caladas!

……………………………………

Infinitamente só,
as horas vão adormecendo…
……………………………………

Estranha visão!
Do espelho para mim,
vem deslizando
lívido de luar
um fulvo Anão, de máscara verde
vestido de arlequim…
As mãos a suplicar,
num gesto que se perde…

Nos olhos cintilantes, infernais,
eu leio confissões rudes, brutais!
– Estende os braços revestidos de oiro…
E as suas mãos esguias
vêm desprender o meu cabelo loiro!…

Álgida madrugada de luar…
Infernal tentação!
Eu não posso desfitar…
a boca rubra e incendiada
do meu Anão!

Quero fugir a este inferno!
– Os olhos dele…
Um abismo sem fim!
Um labirinto!…
– E o meu cabelo a arder
nas mãos do arlequim! –
Não! Não!
Foi um desejo apenas
e que eu desminto!
E rasgo lhe com fúria

as vestes de cetim.
……………………………………

Olho ainda o espelho
pálida e cansada…
E já longe,
iluminado de luar
álgido e frio,
o meu Anão de olhar sombrio,
lá está
a contar
o meu segredo
num murmúrio sem fim,
ás árvores do Medo
do meu jardim!

ROSAS PÁLIDAS

Ó anémicas! Ó pálidas!
Ausentou-se o sangue
das vossas veias delicadas…
Ó sombras vagas
duma vida exangue!
Ó virgens aladas!…

Nunca pôde encantar-me essa candura
da vossa serena
brancura.
E jamais eu tive
um amplexo de amor
em que no meu peito
se esmagasse
a vossa carne de chorosa Madalena
sem gritos e sem cor…

Ó flébeis, doentias!
– O meu olhar procura a ardência
forte e colorida
das vossas irmãs
rubras e sadias!

A vida é beijada pelo sol
e ungida pela dor!

Deixai que o sol fecunde o vosso seio…
e que o vento vos beije
em convulsões brutais
em convulsões pagãs!
A luxúria, ó pálidas irmãs,
é a maior força da vida!
Sensualizai pois! a vossa carne
arrefecida…
Ó brancas, imaculadas!
Ó virgens inúteis
e decepadas…

Judith Teixeira (Viseu, 1880 -- Lisboa, 1959), poeta e ficcionista portuguesa. Publicou três livros de poesia e um livro de contos, entre outros escritos. Em 1925 lançou a revista Europa, de que saíram três números (abril, maio e junho). O seu livro Decadência (1923) foi apreendido, juntamente com os livros de António Botto e Raul Leal, pelo Governo Civil de Lisboa na sequência de uma campanha, liderada pela conservadora Liga de Ação dos Estudantes de Lisboa contra "os artistas decadentes, os poetas de Sodoma, os editores, autores e vendedores de livros imorais". Desapareceu da vida pública em 1927, falecendo em 1959.

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