O Modernismo brasileiro, como vimos, entrou em contato com a poética da brevidade nipônica pela via europeia, especialmente a francesa, desconhecendo a presença em nosso país de um autêntico mestre japonês do haicai: Nenpuku Sato, que desembarcou no Porto de Santos em 1927, assim como milhares de outros imigrantes, para dedicar-se à pecuária e à agricultura. Em sua bagagem, junto às roupas e livros, fotos e recordações, trouxe as palavras de seu mestre, Takahama Kyoshi:
Faça um país de poesia
aonde leve esse navio
vento de primavera
(Tradução: Maurício Arruda Mendonça)
Ao receber a missão de divulgar o haicai no Brasil, Sato foi reconhecido como mestre, pois só um mestre poderia cumprir essa tarefa. Nenpuku instalou-se na Colônia Aliança, em Mirandópolis, no interior de São Paulo; ali, trabalhou na lavoura do café, e depois na criação de gado. Fascinado com a beleza da nova terra, com nossas árvores e pássaros, flores e frutas de estação, Nenpuku criou um novo estilo de haicai. Ele manteve a forma clássica da tradição de seu mestre Kyoshi, mas ao mesmo tempo foi inovador, incorporando cenários e personagens da realidade brasileira, em poemas que falam da família e do trabalho, da natureza e do tempo, como nesta peça, traduzida por Maurício Arruda Mendonça:
Flor do café
lavando essa roupa
flutua mais branca
Em versos de intenso lirismo, vemos a presença do yugen, princípio básico da estética japonesa, que pode ser traduzido como “beleza misteriosa” ou “charme sutil” Por exemplo, nestes poemas:
pássaros migrando
por toda a minha vida
ceifar tudo o que planto
sementes de algodão
agora são de vento
as minhas mãos
É preciso destacar, também, o trabalho de Nenpuku Sato como professor de haicai, no âmbito da colônia japonesa. O poeta viajou por diversas cidades do interior de São Paulo e do norte do Paraná, dando cursos, fazendo conferências e orientando cerca de 6.000 alunos. Criou a primeira coluna na imprensa brasileira dedicada ao haicai, no jornal Brasil jiro, e fundou a revista literária Kokage, que durou até 1979. Considerado um dos dez maiores poetas do gênero pela revista japonesa Hototogisu, Sato obteve reconhecimento do próprio imperador Hiroíto, que ofereceu a ele uma medalha, recusada pelo poeta. Por uma estranha ironia, o inventor do haicai no Brasil sempre escreveu em japonês; ele nunca chegou a dominar o novo idioma, embora tenha insuflado aos ideogramas o espírito do cravo e da canela.
Faça um país de poesia
aonde leve esse navio
vento de primavera
(Tradução: Maurício Arruda Mendonça)
Ao receber a missão de divulgar o haicai no Brasil, Sato foi reconhecido como mestre, pois só um mestre poderia cumprir essa tarefa. Nenpuku instalou-se na Colônia Aliança, em Mirandópolis, no interior de São Paulo; ali, trabalhou na lavoura do café, e depois na criação de gado. Fascinado com a beleza da nova terra, com nossas árvores e pássaros, flores e frutas de estação, Nenpuku criou um novo estilo de haicai. Ele manteve a forma clássica da tradição de seu mestre Kyoshi, mas ao mesmo tempo foi inovador, incorporando cenários e personagens da realidade brasileira, em poemas que falam da família e do trabalho, da natureza e do tempo, como nesta peça, traduzida por Maurício Arruda Mendonça:
Flor do café
lavando essa roupa
flutua mais branca
Em versos de intenso lirismo, vemos a presença do yugen, princípio básico da estética japonesa, que pode ser traduzido como “beleza misteriosa” ou “charme sutil” Por exemplo, nestes poemas:
pássaros migrando
por toda a minha vida
ceifar tudo o que planto
sementes de algodão
agora são de vento
as minhas mãos
É preciso destacar, também, o trabalho de Nenpuku Sato como professor de haicai, no âmbito da colônia japonesa. O poeta viajou por diversas cidades do interior de São Paulo e do norte do Paraná, dando cursos, fazendo conferências e orientando cerca de 6.000 alunos. Criou a primeira coluna na imprensa brasileira dedicada ao haicai, no jornal Brasil jiro, e fundou a revista literária Kokage, que durou até 1979. Considerado um dos dez maiores poetas do gênero pela revista japonesa Hototogisu, Sato obteve reconhecimento do próprio imperador Hiroíto, que ofereceu a ele uma medalha, recusada pelo poeta. Por uma estranha ironia, o inventor do haicai no Brasil sempre escreveu em japonês; ele nunca chegou a dominar o novo idioma, embora tenha insuflado aos ideogramas o espírito do cravo e da canela.
A adaptação do haicai à realidade brasileira não foi algo fácil. Como o próprio Sato reconheceu, logo no início, ele sentiu dificuldade em reconhecer as estações, o elemento essencial para a composição do haicai. Sato chegou a dizer o seguinte: “Levei vinte anos da minha vida para compreender a direção dos ventos, que é completamente diferente da do Japão. Levei vinte anos da minha vida para perceber que o vento sul é frio e o vento norte, quente”. Uma outra dificuldade vivida pelo poeta era o fato de que a maneira como o brasileiro se relaciona com a natureza é diferente daquela do povo japonês. Uma outra frase de Sato: “O japonês é sensível às quatro estações. Ele não pode conter sua emoção. Disto nasce o espírito do haicai. Os brasileiros parecem não perceber estas mudanças climáticas. Encontram-se brasileiros que desconhecem os nomes de flores próprias de cada estação. Brasileiros que sabem o nome de plantas e sentem as estações são pessoas muito especiais.”
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