Caros, 2014 foi um ano intenso, de importantes conquistas e transformações. A Copa do Mundo foi realizada com sucesso, trouxe investimentos para obras de infra-estrutura e mobilidade urbana, gerou milhares de empregos diretos e indiretos, estimulou o turismo e o comércio -- apesar da derrota de 7 a 1 para a Alemanha. O Brasil reelegeu Dilma Rousseff para a presidência da república, na quarta derrota consecutiva da mídia e do capital financeiro, apesar de sofrer uma campanha de difamação em todos os jornais de circulação diária do país (que pertencem a seis famílias de capitalistas midiáticos). Esta vitória se soma à de Evo Morales na Bolívia, Michelle Bachelet no Chile e Tabaré Vásquez no Uruguai. A América Latina reafirma o seu projeto de desenvolvimento autônomo com justiça social, cuja maior expressão, no campo da cooperação econômica, é o Mercosul, e no campo diplomático, a Unasul e a Celac (há exatos 12 anos a antiga OEA não é sequer mencionada na mídia, assim como o FMI). Os Estados Unidos, constatando o seu isolamento no continente, restabelecem relações diplomáticas com Cuba, em evidente tentativa de se contrapor à influência de Rússia e China na região (só se esqueceram de combinar o jogo antes com Raul Castro, que não é bobo).
Os BRICs realizaram um importante
encontro que aprova a criação de um banco internacional, que em futuro próximo
pode colocar em xeque o dólar como moeda comercial entre as nações e a atual
ordem financeira, em uma nova correlação de forças – lembremos que a China já é
a maior economia do planeta. Acordos de
cooperação bilateral realizados entre Rússia e China já apontam nessa direção,
sobretudo no que diz respeito à distribuição e comercialização do gás. A Rússia
retoma a agenda da antiga União Soviética no campo das relações internacionais
e assina tratados de cooperação econômica e militar com Cuba, Nicarágua, Venezuela, Síria, Irã,
Vietnã e Coréia do Norte. O imperialismo não assiste ao novo quadro
político passivamente: fomenta o golpe de estado pró-nazista na Ucrânia, numa
tentativa (infrutífera) de desestabilização da Rússia e estimula provocações
em Hong Kong.
No Oriente Médio, os mercenários
islâmicos patrocinados pelo Ocidente prosseguem em sua tentativa de destruição
da Síria e do Iraque, situação que deve continuar nos próximos anos, com um
custo elevado de mortes entre a população civil e as consequências inevitáveis
da guerra – fome, miséria, doenças e o crescente número de refugiados para as
nações vizinhas.
A entidade sionista invadiu
novamente a Faixa de Gaza, numa operação militar cujo objetivo político era o
de inviabilizar a unidade entre o Hamás e a Autoridade Nacional Palestina (ANP)
e enfraquecer as lideranças desse heroico povo. A agressão custou dois mil
mortos aos palestinos, em sua maioria civis, e a destruição de centenas de
casas, hospitais, escolas, centrais elétricas, estradas, lojas, indústrias e da
infra-estrutura hidráulica e de saneamento na Faixa de Gaza. Em todo o mundo,
são realizadas grandes passeatas de protesto contra a agressão sionista e em São Paulo é realizada a
I Semana e Fórum de Solidariedade ao Povo Palestino, do qual tive a honra de
ser um dos organizadores. Do ponto de vista político, Israel saiu derrotada em
sua guerra de rapina: não conseguiu minar a aproximação entre as principais
lideranças e facções palestinas e o Parlamento Europeu reconheceu a Palestina
como Estado, uma grande vitória diplomática da ANP.
Em 2015, é provável que aumente a
tensão política internacional, com ações mais violentas do imperialismo, na
tentativa desesperada de evitar ou adiar a sua inexorável derrocada. No Brasil,
as forças da direita, inconsoláveis com a derrota de Aécio Neves e Marina Silva, criarão toda sorte de dificuldades para que Dilma tenha condições de
governar. Já realizaram passeatas ridículas pelo impeachment da presidente em São Paulo – reunindo não
mais de cinco mil pessoas, num estado com 44 milhões de habitantes –, fizeram
propaganda do golpe militar (algo anacrônico na atual conjuntura política),
criaram lobby para que o Judiciário não aprovasse as contas da campanha de
Dilma, para que não fosse diplomada (nova e fragorosa derrota) e agora
articulam no Congresso Nacional a candidatura de Eduardo Cunha, do PMDB (mas da
ala oposicionista) para a liderança da Câmara Federal, com o objetivo de
dificultar a aprovação de projetos do interesse do Executivo. Dilma, com
sabedoria, soube vencer todas essas batalhas, nomeando um ministério que
contempla os vários partidos que integram sua coligação, para garantir a
maioria parlamentar e a governabilidade – apesar do mi-mi-mi da “esquerda
festiva” (PSOL, PSTU). Com certeza, teremos novas e importantes batalhas
políticas pela frente, pela reforma política, regulamentação da mídia, redução
da jornada de trabalho, reforma agrária, para as quais é essencial a
mobilização popular nas ruas e a formação de uma frente de esquerda unindo as
centrais sindicais, entidades estudantis, MST, MTST e outros movimentos
sociais. 2015 será um ano de fortes emoções.
RESUMO DE MIM
Muita coisa aconteceu em 2014 em minha
vida pessoal. Recebi o título de doutor em Literatura Portuguesa
pela Universidade de São Paulo, após defender tese sobre o tema “A recepção da
literatura japonesa em Portugal”, concluindo um percurso de sete anos, em que
cursei o mestrado e o doutorado nessa instituição. Fui afastado do Centro
Cultural São Paulo, por motivos políticos (o ex-diretor era tucano), concluindo
uma gestão de quatro anos à frente da Curadoria de Literatura e Poesia do CCSP,
em que criei atividades periódicas de divulgação literária como os recitais do
ciclo Poesia dos 4 Cantos, o programa de rádio web Poesia pra tocar no rádio e
a coleção de plaquetes Poesia Viva, com tiragens de 2 mil exemplares e
distribuição gratuita ao público. A última atividade que realizei no CCSP foi o
Festival Poesia Nova, dedicado à pesquisa de novas linguagens poéticas, que
contou com a participação de E. M. de Melo e Castro, Lúcio Agra, Marcelo Sahea,
Elson Fróes, Nina Rizzi Omar Khouri, Edson Cruz, Paulo
Hartmann, entre outros poetas, músicos e estudiosos. Ingressei na Subprefeitura
da Sé, como coordenador de cultura, lecionei, por dois semestres, literatura
portuguesa na UNIP e mantive a militância política no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no Comitê pelo Estado da Palestina Já e a colaboração mensal na revista CULT, onde assino a
coluna RETRATO DO ARTISTA, dedicada à nova poesia brasileira. Prossigo o trabalho de edição da Zunái, Revista de Poesia e Debates, que comemorou dez anos de circulação no ciberespaço, e nas horas vagas (!) atualizo o blog Cantar a Pele de Lontra. Publiquei alguns
livros em 2014 – as antologias Poemas
para a Palestina (editora Patuá) e El
ornittorinco naranja (Lumme Editor) e ainda a edição mexicana de meu
segundo livro de poemas, Yumê, com
tradução para o espanhol de Victor Sosa. Iniciei a redação de Cadernos bestiais, meu futuro livro de
poemas, reflexão crítico-poética sobre a época em que nós vivemos. Amei, desamei. Agora, estou pronto para as batalhas de 2015.