segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

ÚLTIMO POEMA DO ANO



 LABORATÓRIO DO OUVIDO

Para Dziga-Vertov[1]

relampagueia

cirro-borrifo

nas ramagens //

caule requeimado

azul-ferrete

cemitério da lua //

espectrar lupino

arroxeado

assombra-cães //

misterioso

repactuado

escarabídeo //

formigas

avançam

no esterco //

lunares

arrefecem

nos buritis //

tentaculoso

remorde-se

enigma-de-ecos //

ventos desfolham

flores vermelhas

de cupuaçu //

igarapés

olhos-centúrias

medusa-das-águas //

escoiceadas 

despossuídas

de tudo


2014


[1] Poema pensado como se fosse um breve documentário de Dziga-Vertov (“cine-olho”) sobre a floresta amazônica.

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