segunda-feira, 11 de junho de 2012

UM POEMA DE ADEMIR ASSUNÇÃO


O PÂNTANO

 Há uma serpente enrodilhada nas ramagens
do poema:

cauda verde-turquesa, escamas
mitológicas, cabeça
de névoa.

Há um cemitério de aviões de caça da Segunda Guerra:
fuselagens corroídas
por vermes replicantes, ranhuras
de ferrugem,
pontas preparadas para rasgar a carne
dos incautos.

Há um piloto kamikase e uma mulher seduzida
pelas palavras mágicas do Talmud,

uma rainha louca que trepa
com o próprio filho,

uma princesa lasciva,
cuja diversão é dizimar exércitos mouros

e praticar fellatio
no irmão mais novo.

Há prostitutas chinesas
exímias na arte secreta dos punhais.

Há ciladas, armadilhas, areias movediças
no pântano, entre raízes,
do poema.

Há um monstro de folhagens
e couro cru de crocodilo
pronto para emergir
ao simples toque
da sineta de Pã.

(Do livro A voz do ventríloquo. São Paulo: Edith, 2012)

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