O PÂNTANO
Há
uma serpente enrodilhada nas ramagens
do
poema:
cauda
verde-turquesa, escamas
mitológicas,
cabeça
de
névoa.
Há
um cemitério de aviões de caça da Segunda Guerra:
fuselagens
corroídas
por
vermes replicantes, ranhuras
de
ferrugem,
pontas
preparadas para rasgar a carne
dos
incautos.
Há
um piloto kamikase e uma mulher seduzida
pelas
palavras mágicas do Talmud,
uma
rainha louca que trepa
com
o próprio filho,
uma
princesa lasciva,
cuja
diversão é dizimar exércitos mouros
e
praticar fellatio
no
irmão mais novo.
Há
prostitutas chinesas
exímias
na arte secreta dos punhais.
Há
ciladas, armadilhas, areias movediças
no
pântano, entre raízes,
do
poema.
Há
um monstro de folhagens
e
couro cru de crocodilo
pronto
para emergir
ao
simples toque
da
sineta de Pã.
(Do livro A voz do ventríloquo. São Paulo: Edith, 2012)
É um dos bons poetas hoje.
ResponderExcluirAdmiro.