quinta-feira, 21 de junho de 2012

Saem, enfim, os editais das bolsas BN/Funarte de criação e circulação literária


Por Raquel Cozer 

Saíram hoje no “Diário Oficial da União” os editais referentes às Bolsas de Criação e Circulação Literária, que no ano passado, no centro de uma interminável discussão entre Biblioteca Nacional e Funarte, não foram publicados –e que agora agregam as siglas das duas instituições no nome. O prazo para inscrições é de 45 dias a partir de hoje (até 3/8).

Para as Bolsas BN/Funarte de Criação Literária foram destinados R$ 450 mil. São 30 bolsas, no valor de R$ 15 mil cada uma, a princípio cinco para o Norte, sete para o Nordeste, cinco para o Sul, oito para o Sudeste e cinco para o Centro-Oeste. Podem concorrer brasileiros maiores de 18 anos natos ou naturalizados e estrangeiros no país há mais de três anos.

As bolsas são para iniciantes, considerados aí escritores com até dois títulos de autoria principal publicados com ISBN (ou seja, nome em antologia não elimina ninguém), interessados na produção inédita de poesia, romance, contos, crônicas e novelas. Os critérios são criatividade, contribuição artística e o mais comum para escritores (mentira): organização. A partir da divulgação do resultado, no segundo semestre, os selecionados terão um ano para entregar o livro, com possibilidade de prorrogação por mais um ano.
Já as Bolsas BN/Funarte de Circulação Literária, a serem usadas para a criação de oficinas, cursos, palestras e afins, ficaram com R$ 800 mil. São 20 bolsas, quatro por região, cada uma no valor de R$ 40 mil. As inscrições também ficam abertas pelos próximos 45 dias. Os critérios para habilitação são relevância cultural, impacto social e originalidade.

Comentário de Ademir Assunção:

"A notícia parece boa, mas é péssima. Vou explicar: em 2010, a Bolsa Funarte de Criação Literária, que existia desde 2007, saltou de 10 para 60 bolsas para todo o país. Além disso, foi criada a Bolsa Funarte de Circulação Literária. Ambas, com um orçamento total de R$ 4 milhões para todo o país. Foi o maior passo dado em todos os tempos em termos de políticas públicas para a criação e circulação literária no Brasil. Finalmente, o poder público parecia entender que arte não pode e não deve se limitar a uma simples relação de mercado.

No ano seguinte, com a entrada na nova equipe ministerial, tudo começou a retroceder. Em 2011 não houve editais das bolsas (interrompidos após 4 anos). Os representantes dos escritores no Colegiado Setorial do Livro, Leitura e Literatura cobraram uma reunião com o presidente da Funarte, Antonio Grassi, para discutir a volta dos editais. A reunião aconteceu em setembro, no Rio de Janeiro. Saímos da reunião com a palavra de Grassi de que lançaria um super-edital em 2012 para compensar a lacuna de 2011.

Neste meio tempo, o presidente da Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, entrou na jogada, conseguiu trazer as bolsas para o seu domínio e que o fez? Cortou para menos da metade. Eram 60 bolsas de criação literária, caíram para 30. O valor era de R$ 30 mil, caiu para R$ 15 mil. As bolsas de circulação literária, que favoreciam projetos principalmente nos Pontos de Cultura, também foram cortadas pela metade.

Repare no penúltimo parágrafo do texto de Raquel Cozer: "O valor total, de cerca de R$ 1,5 milhão incluindo despesas administrativas, é bem menor que o de 2010, quando R$ 4 milhões foram destinados aos editais. Só as bolsas de criação, por exemplo, que eram 60, com R$ 30 mil para cada uma, caíram pela metade."

Não adiantou argumentarmos que um extenso relatório, encomendado pelo próprio Ministério da Cultura, feito por uma pesquisadora independente, apontasse as Bolsas Funartes como um dos programas públicos federais mais bem sucedidos na área de fomento à criação e circulação literária.

Também de nada adiantou argumentarmos que países desenvolvidos têm vários programas públicos de fomento à criação artística. Inclusive Cuba, bem mais pobre que o Brasil. Qualquer artista razoavelmente informado sabe disso.

Mais um lamentável retrocesso deste lamentável Ministério da Cultura. Mais uma vitória do Sr. Galeno Amorim contra a inteligência criativa e a favor do simples comércio de livros."

Um comentário:

  1. Infelizmente isso é pouco divulgado e tem muitas pessoas que ainda admiram este "senhor" Galeno Amorim... uma pena que o Afonso Romano não esteja mais na Biblioteca Nacional...

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