segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

TRÊS ORIKIS PARA OS CADERNOS BESTIAIS



















ORIKI DE EXU

Lagunã corrige o corcunda.
Faz crescer a lepra do leproso.
Põe pimenta no cu do curioso.

Legbá ensina cobra a cantar.
Entorta aquilo que é reto,
endireita aquilo que é curvo.

Exu Melekê — o desordeiro
faz a noite virar dia e o dia
virar noite. Surra com açoite

o colunista da revista. Cega
o olho grande do tucano —
e zomba do piolho caolho.

Ibarabô vai-vem-revém.
Quente quente é a aguardente
do delinquente. Elegbará

com seu porrete potente
quebra todos os dentes
do entreguista privatista.

Bará tem falo de elefante.
É o farsante dos farsantes:
fode a mulher do deputado

hoje – e faz o filho ontem.
Agbô confunde o viajante
e o faz perder a sua rota.

Bará Melekê compra azeite
no mercado — e o leva na peneira
sem derramar uma gota.

Larôye Exu! O desalmado
soma pedras e perdas na sina
do condenado. Sete Caveiras:

que seja suave minha sina
neste mundo tão contrariado.
Que seja suave – Larôye Exu!


 


ORIKI DE OXUM 

Para Déa Lyrio

fêmea-das-águas
senhora do ijexá

dona das danças
desliza no vento

oxum ibu anyá:
ouve meu lamento

senhora da brisa
atende meu intento

sábia òbò mèjá
púbis-pensamento

que fere com ferro
e cura o ferimento

com ofá e abebé
varre meu tormento

mãe de logunedé
vem neste momento:

ifá de bom agouro
não se contradiz

moça-verde-ouro
quero a flor-de-lis

moça-verde-ouro
dê-me quem eu quis

moça-verde-ouro
se acaso consentis

moça-verde-ouro
sem manha ou ardis

moça-verde-ouro
ao feroz fará feliz

moça-verde-ouro
ekiti efon-imperatriz

Ora iê iê ô!

2015














ORIKI DE ORUNMILÁ

filho de olorum,
ibá olodumaré.

senhor do ifá,
sabe nomes
e caminhos.

ibá orunmilá
sabe todos
os destinos.

eliri ipin 
cuida de mim

em meus
descaminhos.

2006

(revisado em 2015)

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