As unhas crescendo na parede
das casas, os pássaros saindo
pela boca com o sexo das
sombras tocando
na vidraça,
a urina nas cadeiras
penduradas pelo entardecer.
* * *
Eu toco a página do livro com a
mão e a aridez do pensamento
dobrando seus espelhos
é o barulho do ar
batendo nas palavras.
* * *
A palavra escava a madeira,
entra na água, relâmpago enterrado no
ar castanho, palmas esculpidas,
banho de osso e lentamente extrai
a dádiva dos seios macilentos, ímã
dos fogos assimétricos. Vozes mer-
gulhadas mansamente no amarelo.
* * *
áspera do amor roendo a carne
numa liturgia de naufrágios mer-
gulha a cama nas paredes, janelas
penduradas como um paraíso.
* * *
Dissecar a pedra, o sopro, aperta
o labirinto de um único erspelho.
(Poemas do livro Favo. Bauru: Lumme Editor, 2013)
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