Claudio Daniel
Um novo ator
social surge em cena: o cidadão comum.
Ele não
pertence a movimentos sociais organizados, nem a partidos tradicionais de
esquerda, sindicatos ou a entidades estudantis.
Ele não tem
uma identidade política clara – não é liberal, socialista, comunista, mas
desconfia de todos os partidos, de todos os governos e instituições.
Ele não sabe
exatamente o que deseja – tem um sentimento vago de revolta em relação a “tudo”
– corrupção, tarifas altas do transporte, impostos, código penal, PEC 37, entre
outras coisas – mas não tem clareza do seu objetivo: fazer uma revolução? Para
colocar o quê no lugar do atual regime democrático representativo?
O cidadão
comum acredita naquilo que assiste na televisão e lê nos jornais, participa das
redes sociais, mas não consegue construir com clareza um discurso ideológico,
uma visão geral do mundo.
O cidadão
comum sente-se oprimido pelos fatos e não encontra nenhuma instituição que o
represente.
O cidadão
comum não reconhece as mudanças que aconteceram nos últimos dez anos no Brasil
– saída de 40 milhões de pessoas da situação de miséria, a quase erradicação da
fome no país, a política de estabilidade econômica e baixo índice de desemprego,
o aumento do consumo nas classes populares, a inclusão social de
afrodescendentes, o investimento maciço na educação, entre outras conquistas –
porque não enxerga uma mudança radical no país.
O cidadão
comum aceita o discurso ideológico da grande mídia e dos grupos conservadores.
O cidadão
comum, antes desorganizado, começa a se organizar. Ele não tem ideologia. Não
tem partido. Não tem uma alternativa de poder.
Quem está
atuando nos bastidores, porém – e já saiu às ruas, sem máscaras – tem ideologia,
tem partido e tem alternativa de poder: a extrema-direita, representada por
entidades como o Instituto Millenium, Revoltados On Line, entidades de oficiais
da reserva e outros setores que representam o que há de mais reacionário na
sociedade brasileira.
São estes
setores que usam a frustração popular, o ressentimento, a insatisfação com as
instituições, para chegar ao seu objetivo – derrubar o governo democrático de
Dilma Rousseff e implantar em seu lugar um regime análogo ao de 1964, que
coloque os partidos políticos na ilegalidade (“sem partido, sem partido”,
gritam nas ruas), as centrais sindicais – 20 sindicalistas da CUT foram
agredidos hoje no Rio de Janeiro, militantes petistas foram hostilizados e suas
bandeiras, rasgadas – e todas as demais instituições democráticas dos
trabalhadores e da juventude brasileira.
Por quê não
fechar o Congresso?
Afinal, lá
estão Renan, Sarney, Collor, Maluf e tantos outros corruptos!
Por que não
abolir as eleições?
Afinal, Lula
pode se candidatar de novo, e ainda Dilma, Suplicy, Haddad e outros petistas ou
comunistas.
Para quê
auxílio-detenção?
Preso tem que
morrer! Menor de idade? É bandido, tem de morrer também!
Parada gay?
Nem pensar!
Homossexualismo é doença. O PT quer ensinar as crianças nas escolas a serem
gays e lésbicas! Eles querem a ditadura gay!
Exagero?
Basta sair às
ruas e ouvir o que o homem comum diz.
O homem comum
é fascista?
Ele não sabe
o que é fascismo. Acha que direita e esquerda são a mesma coisa. Ele não quer
pagar impostos, mas o governo – ele pensa – deve oferecer transporte de graça,
saúde e educação para todos, já. Como? Por milagre. Porque – acredita o homem
comum – um presidente pode fazer milagres.
Só há um
porém: não há milagres.
Quando o
homem comum descobrir isso, ele não poderá mais reclamar de NADA.
NÃO PODERÁ
RECLAMAR DE NADA.
Porque quem
reclama é petista ou comunista – e para estes há prisão, tortura, exílio ou
assassinato.
Exagero?
A culpa,
reconheço, não é do cidadão comum.
A culpa é do
PT.
Sim, a culpa
é toda do PT, porque esse partido acreditou sinceramente no respeito às
instituições democráticas, na legalidade, no respeito à ordem, à propriedade
privada, à liberdade de imprensa-empresa.
O PT
acreditou que seria possível melhorar a qualidade de vida de milhões de
brasileiros sem fazer a revolução socialista.
Realmente, em
dez anos de governos progressistas, houve imensas conquistas, muito mais do que
nos últimos 50 anos da política brasileira.
Mas ninguém
contou isso ao cidadão comum, porque o PT não quis implementar a Lei de Mídia,
permitiu que a imprensa burguesa o atacasse diariamente, sem fazer
absolutamente nada.
O PT permitiu
que o Poder Judiciário permanecesse nas mãos de oligarquias retrógradas.
O PT não
politizou a população, ao contrário: engessou o movimento sindical e popular,
que era o seu único e verdadeiro amigo.
O PT teve
medo e perdeu a esperança.
O PT poderia
fazer do Brasil um grande país socialista, que mudasse os rumos do mundo.
Mas teve
medo.
Teve medo.
TEVE MEDO.
Agora sim, o
PT tem razão para sentir medo, porque milhares de pessoas podem invadir o
Congresso Nacional ou o Palácio do Planalto.
A menos que
aconteça alguma coisa.
A menos que o
PT vença o medo.
A menos que o
PT assuma, de uma vez por todas, o seu papel histórico, ao lado dos comunistas
e outras forças populares e revolucionárias.
Haverá tempo
ainda?
claudio, muito boa e lúcida a reflexão.
ResponderExcluirpartilho deste pensamento.
o momento exige autocrítica e enfrentamento.
acho que está na hora de assumirmos de frente e de vermelho o que acontecerá daqui pra frente.
Excelente texto! Concordo e vou compartilhar no facebook...
ResponderExcluirExcelente texto! Concordo e vou compartilhar no facebook...
ResponderExcluirMuito lúcido o texto!
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