DAS IRMÃS
I
1
o
fogo.
erguer-se
dos desfiladeiros,
o
corpo —
como
se as partituras regressassem ao mistério
das
mãos.
à
quiromancia dos chamados.
2
boca,
comei este pão e tomai este vinho anti-horário.
girai
as fabulosas torneiras da vascularidade,
a
cabeça exorcista da pequena regan,
180
graus
de
febre: este é o meu corpo e este é o meu sangue.
II
por
vezes minhas unhas crescem
mais
que o habitual.
lembram
as unhas dos mortos:
inoxidáveis
—
ganchos
onde eu poderia pendurar
tuas
vísceras,
(o
peso),
levá-las
de lá para cá,
(o
amor),
como
uma espécie de açougue
ambulante.
sabes,
sou assim.
tenho
sonhos em que me transformo
em
lady zumbi.
*
para
cada homem deus ofertou um pedaço fálico
de
sua ausência.
tu
és um deles: não perdoo.
III
regressam
à mansão com lamparinas gravitando
em
torno da cabeça.
eixo
dos satélites do fogo, da suprema
incandescência,
elas:
minhas irmãs mortas, gravitando em torno de seus nomes vazios.
como
se fossem dizê-los.
*
a
luz se despede do sangue.
as
minhocas descem para aquele continente
onde
o silêncio se avoluma
e
produz ecos.
*
"perdoa-nos",
suplicam.
IV
queimam-se
as pontas
dos
cabelos.
o
dossel se abre como as manhãs ou um pássaro enorme.
*
é
ela, a irmã que ama.
a
irmã louca.
em
algum lugar da última palavra que dirá
o
vento devasta omoplatas
e
fêmures.
um
par de rosas brota nas órbitas
de
sua caveira.
*
conheço
homens que podem suspendê-la da vida e da morte
com
seus guindastes, o canto.
os
lábios oníricos.
*
prendem-na
às cordas furiosas.
giram
as roldanas de seu corpo.
puxam-na
para o alto, para o alto — eternamente.
V
fala-se
no espírito de uma mendiga.
somente
os sexos conseguem
psicografá-lo.
*
fala-se
num vale onde os mortos sobem em pernas de pau
e
atingem alturas inconcebíveis.
a
mediunidade paira sobre suas cabeças:
o
enxame de moscas.
*
é
tão triste apodrecer.
*
o
pão se entrega à sarna noturna.
a
fome se entrega à fome.
*
minhas
irmãs não suportam se ver nuas.
VI
gestos
da criança que ela não teve se espalham pelo jardim
como
uma missa de cinzas.
juntam-se
à neblina.
*
às
cinco e meia, precisamente, os sinos da melancolia
fulminam
a torre.
(nas
cordas, as mãos frias
da
irmã.)
*
ouvem-se
suas badaladas
por
toda a terra.
VII
ninguém
pelos corredores a partir das nove
(regras
de funcionamento):
o
piso em madeira não absorve o impacto do caminhar.
seria
impossível dormir com as noviças indo
e
voltando do banheiro,
seus
chinelinhos tristes,
suas
camisolas de chorar pétalas.
*
a
ventania abre uma segunda noite entre as folhas do hinário, na mesa da sala.
já
nos respectivos quartos, elas abrem as pernas
e
se tocam longamente.
VIII
lounge,
lira. fertilização ao modo psytrance. minhas irmãs se dopam com as três partes
do segredo de fátima e gargalham.
(um
abutre vesgo enrodilha as pick-ups.)
*
não
se sabe exatamente quantas há.
você
vê larvas de procedência rara saindo do umbigo do poema. lounge, lira,
três
vezes autópsia:
psy,
psy, psycadáver de fátima.
*
litros
de loção e cera depilatória descem pelas ruas de ibiza.
elas
se ajoelham e oram.
IX
não
levantarás
não
estarás vivo
para
ver
meu
sexo descende da hélice anti-horária, a palavra de judas
o
meu e o das irmãs
sei
que um dia esses sexos girarão infinitamente
e
nós subiremos com o peso
todo
o peso do mundo
inclusive
o teu
inclusive
o teu
tuas
pernas de coliseu elétrico
tua
outra artilharia
de
senhas
as
33 vozes que nasceram e se puseram como um sol
nos
teus cabelos
este
será o dia, amor
o
único dia que terá havido sobre a terra
não
levantarás
estarás
morto
um dos poemas mais lindos dos últimos anos. aliás, entre outros da mar becker
ResponderExcluirCoisa mais linda, me levou às lágrimas...
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