O ANJO DA DESVENTURA
Durante algum tempo ainda se enxerga o bater das suas asas, ainda se ouve o êxtase do bater das pedras que caiem atrás , por cima e à sua frente, cada vez mais ruidosas, enquanto o movimento impetuoso mas inútil, esporádico, abranda.
Então, o instante fecha-se sobre ele: no pedestal , que rapidamente ficou soterrado , o anjo da desventura encontra a paz, à espera da história na petrificação do voo , olhar e hausto. Até que o poderoso murmúrio do bater de asas se dispersa, de novo, em ondas, por toda a pedra, e anuncia o seu voo.
FRAGMENTO PARA LUIGI NONO
A ERVA AINDA
TEMOS DE A ARRANCAR
PARA QUE FIQUE
VERDE
Em Auschwitz
A pegada da unha
Homem sobre mulher
Mulher sobre criança
Os cânticos quebrados
O coro sacro
Das metralhadoras
O cântico dos
esquartejados
As cordas vocais de Mársias
Contra Apolo
Na pedreira dos povos
A carne dos instrumentos
Mundo sem martelos nem pregos
Inaudito
Tradução: Luís Costa
Leia mais poemas de Heiner Muller na próxima edição da Zunái.
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