Ou melhor, há várias literaturas dentro dessa literatura: 1) o cânone
histórico, sujeito a contínuas revisões críticas, com subtrações e acréscimos,
que vai de Gregório de Matos a Arnaldo Antunes e Josely Vianna Baptista; 2) a
lieratura experimental, menos lida e valorizada, porém a parte mais viva de
nossas letras, que vai de Sousândrade e Pedro Kilkerry a Oswald de Andrade,
Patrícia Galvão, Campos de Carvalho, Valêncio Xavier e aos (poucos) poetas e
prosadores contemporâneos que pesquisam a poesia visual, sonora, performática,
videopoesia e textos de invenção; 3) a "literatura de mercado", publicada
por grandes editoras, que recebe prêmios e reconhecimento midiático, porém
poucas vezes devido à qualidade artística, e muito mais pela viabilidade
comercial de certos autores e obras; 4) a literatura periférica, produzida fora
dos grandes centros urbanos, que registra o cotidiano de populações excluídas e
apresenta novos autores, leitores e obras, cuja importância social talvez
supere a sua importância estritamente literária (ao menos por enquanto); 5) as
literaturas orais, que incluem desde os poemas cantados das etnias indígenas e
dos quilombolas até a tradição do cordel (que é cantado mas também escrito). O
que acontece hoje em dia é o esforço das grandes editoras de criar um mercado
editorial voltado ao público "médio", com obras medianas, de autores
medíocres, obras de fácil compreensão e rápido retorno comercial, que alimente
o circuito editoras-livrarias-mídia-cânone universitário. Diante desse fato, o
que um escritor sério pode fazer é dar as costas ao mercado, à moda e à mídia e
dedicar-se à criação de obras consistentes, densas, inventivas, que circulem
fora (e contra) esse sistema de meios termos. Se possível, ir além de si mesmo
e colaborar com formas coletivas de resistência, seja através de revistas,
jornais, manifestos, performances e outras ações que mostrem, aos poucos
leitores interessados, que ainda há vida inteligente na poesia, no romance, no
conto, na dramaturgia e em outros gêneros do que se convencionou chamar de
literatura.
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