sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

A POESIA QUE FAZ SENTIDO

 

A POESIA BRASILEIRA QUE FAZ SENTIDO HOJE é quase clandestina. Apresenta um elaborado trabalho de linguagem, tanto no campo da semântica quanto no da sintaxe, no da estrutura e dos códigos, utiliza todos os recursos disponíveis, desde as metáforas, aliterações e assonâncias até recursos sonoros e visuais das mídias eletrônicas, de maneira radical, sem fazer concessões e sem incomodar-se com a acusação de hermetismo ou "incomunicabilidade". É ignorada pelas grandes editoras -- e dá as costas para elas; não é comentada pelo que sobrou da crítica literária e pouco se importa com essa crítica. Está ausente de premiações e festivais literários. Circula em pequenos grupos de leitores cultos, também poetas, na maioria, vide publicações em redes sociais, revistas, blogues, plaquetes ou livros de tiragem reduzida. É uma poesia crítica, não apenas da realidade, mas também da própria poesia -- da facilidade cada vez mais intolerável da "literatura de mercado", que privilegia o que há de mais banal, até infantil, na produção poética contemporânea. Ela será ignorada pelas antologias e pelos construtores de cânones, como algo "maldito", "elitista" ou "inacessível", e permanecerá silenciada por anos ou décadas. Os poetas sérios farão pouco caso disso e seguirão cada vez mais radicais, ousando escrever a poesia mais original e consistente de nossa época.

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