Com leprosos como papagaios
Mar de silêncio rachado pelo relógio falante da velhice
Gritos de uma jovem cadela esquartejada
O hospital cuida de seus mortos-vivos que não nasceram.
* * *
Convide-me a passar a noite em sua boca
Conte-me a juventude dos rios
Pressione minha língua contra seu olho de vidro
Dê-me sua perna como ama de leite
E depois vamos dormir, irmão de meu irmão
Pois nossos beijos morrem mais rápido que a noite
* * *
Plantei uma mão de criança
Pálida de doença, trêmula de verme
Em meu jardim de árvores floridas.
Enterrei-a bem no solo fétido
Reguei-a bem, rastelei, nomeei
Sabendo que uma virgem brotará nesse lugar
Uma virgem brilhante de luz e de vida
Uma nova fé em lugares ancestrais
Tradução: Éclair Antonio Almeida Filho
(Do livro Gritos rasgos e rapinas, de Joyce Mansour. Bauru: Lumme Editor, 2011. Pedidos pelo e-mail vendas@lummeeditor.com)
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