domingo, 19 de junho de 2011

UM POEMA DE WALLACE STEVENS

TREZE FORMAS DE OLHAR UM MELRO

1

Entre vinte montanhas nevadas
A única coisa a mover-se
Era o olho do melro.

2

Eu tinha três pensamentos
Como uma árvore
Em que há três melros

3

O melro girava nos ventos de outono.
Era uma pequena parte da pantomima.

4

Um homem e uma mulher
São um.
Um homem e uma mulher e um melro
São um.

5

Não sei o que preferir:
A beleza de inflexões
Ou a de insinuações,
O melro assoviando
Ou o imediatamente após.

6

Sincelos cobriam a longa janela
De vidro barbaresco.
A sombra do melro a atravessava,
p'ra lá e p'ra cá.
A disposição de espírito
Traçava na sombra
Uma causa indecifrável.

7

Oh homens magros de Haddam,
Por que imaginais pássaros dourados?
Não vedes como o melro
Caminha à volta dos pés
Das mulheres à vossa volta

8

Sei nobres tons
E ritmos lúcidos, inevitáveis.
Mas sei também
Que o melro está envolvido
Naquilo que sei.

9

Quando o melro sumiu de vista,
Marcou a orla
De um entre muitos círculos.

10

À simples visão de melros
Voando numa luz verde,
Mesmo as alcoviteiras da eufonia
Emitiriam uivos agudos.

11

Atravessou Connecticut
Num coche de vidro.
Uma vez o medo o trespassou:
Foi quando tomou por melros
A sombra da carruagem.

12

O rio se move.
O melro deve estar voando.

13

A tarde toda era um fim de tarde.
Nevava
E ia nevar.
0 melro estava assentado
Nos galhos do cedro.

Tradução: João Moura Jr.

Um comentário:

  1. Celso Vegro26.6.11

    Prezado prof Claudio Daniel
    Curiosamente estive a ler W. Stevens nessa semana em que publica esse poema. Me agrada muito a poética de Stevens pois há nele um refinamento que se adianta ao legado simbolista. Poderíamos, ques sabe, numa de nossas aulas estudar o "Le monocle de mon oncle", que tal.

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