quarta-feira, 2 de junho de 2010

UMA PROSA DE WILSON BUENO


VAGA-LUMES

Chegam pelas noites de verão - miríades deles num revôo de faíscas contra o azul profundo. Se um se ausenta, outro se assanha, abaixo, acima, de lado e a celacanto - assim tão sucessivamente que parece chovem sobre o quintal, entre os arbustos, os cactos e os eucaliptos.

Rever em vós o nítido contorno, a dura escorregadia couraça com que o corpo trincas (faíscas?) ao meio, a movimentos sincopados - o modo como escapas de meus dedos ávidos, e o sombrio gozo no coração do sinistro.
Desejar-vos a luminosa cola túrgida feito um veneno de iridescente apelo, e aprender à margem dos meus escombros de mim o quanto falhos fomos; e velhos em nossas luzes. Luzes?

Mais vale a alma sucinta do besouro para sempre condenado à uma morte de bruços, e cheia de pernas.

Perdoa o que fui de vosso látego e anátema; perdoa.

Então, amor, é que acendes, de inopino, toda uma floresta no escuro.
(Texto de Wilson Bueno publicado originalmente na Zunái e não recolhido em livro.)

Um comentário:

  1. Esse texto deveria fazer parte do Manual de Zoofilia, de Wilson Bueno; ele planejava incluí-lo numa nova edição do livro.

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