A eleição de Barak Obama para a presidência dos Estados Unidos teve uma forte importância simbólica, por ser o primeiro negro a ocupar esse cargo num país que, até a década de 1960, vivia um regime de segregação racial semelhante ao apartheid da África do Sul. O fato de Obama ser filho de pai queniano e descendente de muçulmanos apontava ainda para uma mudança de direção na política interna e externa, com maior ênfase no combate às desigualdades sociais e no convívio (e não conflito) de civilizações.
As primeiras medidas tomadas pelo novo presidente, de fato, foram ousadas, no âmbito da política norte-americana: anunciou o fechamento do campo de concentração de Guantánamo, a retirada das tropas do Iraque, o aumento dos impostos dos mais ricos, o estímulo à pesquisa em células-tronco (contrariando os psicopatas da Igreja Católica) e a elevação dos gastos públicos com a educação. Por conta disso, foi chamado de “camarada Obama” pelos tiranosauros da direita em seu país.
A esperança de mudanças profundas no país do Pato Donald, porém, aos poucos está se revelando inócua: é verdade que Obama irá retirar os soldados do Iraque, sim, mas para enviá-los ao Afeganistão, ampliando a guerra nesse país, sem o risco de manter duas frentes de batalha (que já custou mais de 4 mil soldados mortos às Forças Armadas dos EUA). Ao mesmo tempo, ameaça bombardear bases rebeldes no Paquistão (cujo governo, vassalo obediente de Washington, não consegue controlar a própria população descontente) e dá ultimatos ao Irã, por causa de seu programa nuclear (sem fazer a menor censura ao arsenal de 200 ogivas nucleares de Israel).
Obama mantém o apoio incondicional ao governo israelense, hoje dirigido pelo líder de extrema-direita Netanyahu, que declara querer anexar Jerusalém Oriental, aumentar a colonização nos territórios palestinos ocupados e negar a esse povo oprimido há 60 anos um Estado soberano e independente. A suposta “face humana” do imperialismo, sob o governo de Barak Obama, é a mesma face cruel e despótica de seus antecessores. Não por acaso, Gore Vidal, comparando os EUA à antiga União Soviética, declarou que, em ambos os países, governava um partido único, mas que, nos EUA, esse partido único tinha dois nomes: Republicano e Democrata...
Barak Obama tem ainda o desafio de lidar com a mais grave crise do capitalismo desde a II Guerra Mundial, e sua receita para isso é clara: ressuscitar o modelo de Keynes e utilizar recursos do Estado para revitalizar a economia de mercado. Conforme noticiou a UOL, “o governo Barack Obama concederá mais ajuda financeira a General Motors e Chrysler em troca de novas concessões, noticiou hoje em seu site o jornal americano The New York Times. As duas montadoras receberam US$ 17,4 bilhões em ajuda pública desde dezembro de 2008 e já solicitaram outros US$ 21,6 bilhões extras para manter suas operações”. Claro, essa injeção financeira é dada sob a alegação da proteção dos empregos dos trabalhadores americanos. Mas por que o Estado só deveria intervir (na lógica capitalista) para socorrer empresas falidas, e, quando o faz em benefício de gastos sociais, saúde, educação, distribuição de renda, isso é chamado de “populismo”? Enfim, pouca coisa mudou na Casa Branca, além da cor da pele de seu novo dirigente. Que preferiu trair seus antepassados e adaptar-se à lógica da senzala, a um poder tirânico, fossilizado, que incorpora pequenas mudanças cosméticas para permanecer sempre o mesmo.
é, poeta, de novo só a cor da pele e a nossa ilusão de que algo ia mudar. q nada! continua tudo na mesma (des)ordem mundial. abraços
ResponderExcluirCaro Linaldo, sim, infelizmente, muda tudo para não mudar nada... conforme a Folha noticiou em 14 de março, "o presidente mantém a autoridade para manter presos em Guantánamo sem acusação -- o que foi duramente criticado por ativistas dos direitos humanos" (a prisão será fechada num prazo de 12 meses). A matéria ainda diz: "a nota trata apenas da prisão na base militar em Cuba", mas "não aborda a prisão de Bagram, no Afeganistão, nem os casos de detentos confinados em navios militares". Isto significa que os acusados de terrorismo (com provas ou não) continuarão sendo presos, interrogados e torturados em lugares desconhecidos, sem o acesso da Anistia Internacional, da Cruz Vermelha, de seus familiares ou da imprensa, no melhor estilo Georg W. Bush. Outro fato curioso é que Barak Obama, de ascendência negra, não enviará nenhum representante para a conferência internacional sobre o racismo, em 2009. O motivo? Para não ouvir críticas ao genocídio do povo palestino pelo Estado Nazista de Israel. Ufa, mudou alguma coisa?
ResponderExcluirAbraço,
CD