quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

DOIS POEMAS DE HAN-SHAN

Alto alto no cimo do monte
De todos os lados o ilimitado extremo

Sozinho medito sem ninguém saber
A lua solitária ilumina a fonte fria

No meio da fonte agora não há lua
A própria lua está no céu azul

Recito baixinho a melodia deste canto
Este canto finalmente não é zen


* * *

Vós olhais as flores no meio das folhas:
Quanto tempo de bom podem elas ter?

Hoje temem que alguém as colha
Amanhã aguardam que alguém as varra

Cativantes os entusiasmos do coração
Após vários anos envelhecem

Comparado com o mundo das flores
O fulgor do vermelho como o conservar?

Traduções: Ana Hatherly


(Do livro O vagabundo do dharma: 25 poemas de Han-Shan. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2003. Caligrafias de Li Kwok-Wing. Tradução direta do chinês por Jacques Pimpaneau. Versões poéticas de Ana Hatherly.)

Um comentário:

  1. Caros, recebi este livro belíssimo como presente de Natal de Ana Hatherly! Quem já leu Os vagabundos iluminados, de Jack Kerouac, deve se lembrar da referência ao poeta chinês Han-Shan, do século VII, traduzido por Gary Snyder. Ele foi, provavelmente, o primeiro poeta beat da história, percorrendo vales e montanhas buscando o sentido das coisas no contato direto com os fenômenos.

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