quinta-feira, 29 de julho de 2021

SEGUNDO OLHO

 

 SEGUNDO OLHO

Minúsculos cães inauguram o inverno.

A rosa dos ventos está morta.

Rasgada entranha.

Ângulos agudos enlouquecem

e a noite, como um palhaço de circo,

esfaqueia as nuvens.

O reflexo da lua em um prato vazio.

Homens de barro marcham nas ruas

com uniformes verde-oliva:

inânimes ou brutais;

poros ou pedras,

veias petrificadas como esqueletos

de sáurios;

cruéis como a noite branca;

inúteis como lesmas brancas;

rutilam, estridentes,

como flores artificiais

feitas de iniquidade.

No princípio era o estranho

refém do futuro

um rio escuro sem nome,

alguém sem cabeça;

depois, a serpente devorou

a si mesma.

Um sussurro me disse o teu nome,

o teu lindo nome,

escrito no livro da terra,

e nós lutaremos contra o Não.

 

Claudio Daniel, julho / 2021

Um comentário:

  1. Fantástico e necessário.Belussimos versos " Um sussurro...no livro da terra"

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