Água escura,
excessiva, cai
sobre cabeças de alfinete;
somos minúsculos pontos
borrados, quase invisíveis.
Ruídos esfiapados de metais
somam–se aos gritos
estilhaçados da noite.
Caminhamos dessa rua
a outra rua, entre dedos
de árvores e mariposas
epidérmicas, mas nada vemos:
nem as flores das ameixeiras,
nem os fios estorricados;
estamos cegos, talvez meio mortos,
como diabos frios no redemoinho.
Quando amanhece, mundo
recém-criado e mudo,
o olho curvo do pesadelo
mira espectros quase nus
roendo restos de ossos
na porta do açougue.
Xangô Oluaxô,
venha com seu machado
de duplo gume.
Claudio Daniel, julho / 2021
Primoroso como de costume.
ResponderExcluirmagnífico
ResponderExcluirum axépoético
Coisa de Mestre 👏🏾👏🏾👏🏾
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