domingo, 16 de fevereiro de 2014

CADERNOS BESTIAIS (V)


CONTRA A ENTRANHA

Contra a entranha —
multiplica o medo
no borrão desfigurado;

unhas enegrecidas,
maxilares arrancados,
miuçalha de carcaças.

Nenhuma língua enterrada
na fossa onde caranguejos
copulam com capulhos;

mistério ou talvez corrosão
de ácidos na decapagem
para a despossessão de tudo.

Retrátil, contra teu sangue,
a exaustão do que esfiapa
o símile do pensamento.

Esta pele, tua pele, nenhuma pele:
tudo é número e o número
é legião; meu nome é legião.

(Poema escrito por ocasião dos 50 anos do golpe de 01 de abril de 1964.)

2 comentários:

  1. Esta pele, tua pele, nenhuma pele: a pele uma ruína indecifrável porque apagada. Parafraseando Benjamin: Como acordar os vivos se eles são incapazes de encontrar-se na história? Desviscerando o passado recente este seu belo poema, Claudio.

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  2. Esta pele, tua pele, nenhuma pele: a pele uma ruína indecifrável porque apagada. Parafraseando Benjamin: Como acordar os vivos se eles são incapazes de encontrar-se na história? Desviscerando o passado recente este seu belo poema, Claudio.

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