sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

CADERNOS BESTIAIS (III)


CABEÇA DE NÃO

Cabeça de negro – não entra –

cabeça de branco –

entra – cabeça de pobre –

não entra – cabeça de nobre –

entra – cabeça de pardo –

não entra – cabeça de podre –

entra – cabeça de cobre –

não entra, nem cabeça,

nem pés, nem mãos,

nem joelhos, nem nada –

não entra, neste passeio;

não entra, neste passado;

se é preto ou pardo;

por isso, o poeta contesta,

por isso o poeta protesta,

por isso o poeta desafia,

por isso o poeta desafina,

se alinha junto a esses e a essas,

por isso, por aquilo, por tudo, por nada.

2014

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